quinta-feira, 17 de julho de 2008

GRATIDÃO ( Para meus filhos e netos)



De onde estou, em lugar privilegiado, iniciando esta crônica, tento compreender as desigualdades, observando os telhados distantes. Daqui vejo praticamente toda a cidade, com casas que dividem o mesmo espinhaço, contíguas que são. Aqui do alto, e à distância, não dá para que se escute o barulho próprio do movimento das conglomerações urbanas. Muito verde à minha volta e a rua onde moro é um silêncio só. Nosso jardim pertence aos pássaros.

Seria cômodo e egoísmo da minha parte, com essa brisa que me beija, ignorar como vivem as pessoas lá no burburinho, no fluxo do ir e vir. No entanto, numa lufada maior, como que num bofete, o vento adverte-me para que não as relegue e que as veja como possuidoras de todos os poderes que têm para arquitetar e concretizar suas vontades, seus sonhos.
Isso tudo faz-me lembrar Recife, num pequeno apartamento de só um quarto, cuja visão pelas duas únicas janelas logo esbarrava no paredão do viaduto da avenida João de Barros. O ruído era tão perturbador pelos veículos de pessoas apressadas, que havia necessidade de por algodão nos ouvidos, o que melhorava a concentração no ato de estudar. Por ironia, o nome do prédio era “Bela Vista”
Nada pode ser mais verdadeiro e de bem querença do que a orientação que os pais dão aos filhos para que estudem. E também não há nada mais gratificante do que colher os frutos desse apelo.
Fortunas existem por herança, loteria, por razões duvidosas ou tenebrosas... Mas aquela advinda da abnegação pode não ser tamanha, mas certamente tem a simpatia divina. É assim que entendemos uma bênção. Deus nos diz, “vai que te ajudo”.
Por generosidade Vossa, Senhor, nossa casa é hoje ampla, farta, acolhedora e panorâmica. Tendes dado saúde a seus moradores, vossos filhos, e olhos que sempre vos agradecem. Compreendemos também que a escolha deste nosso canto não foi por lei do acaso, mas um prêmio que serve de incentivo a todos os que escutam os conselhos dos pais. Somos capazes de vislumbrar a poeira do burrico a pelejar com a Família Sagrada por um lugarzinho onde ficar...
Por gratidão, meu Deus, esta casa é vossa. Disponha.

Crato (Ce), 26 de setembro 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo.

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