domingo, 27 de julho de 2008

Ascendentes e descendentes



Uma das verdades dessa vida é que os avós são pais açucarados. Compete aos pais educar os filhos e aos avós cabe tudo, mas com tolerância máxima.

A regra é que os netos chegam na fase de nossas vidas em que estamos dormentes, exauridos por reclamar, apontar caminhos, - os guris preferem veredas, atalhos, - sonolentos ainda por noites mal dormidas num passado não distante, enfim, com o coração mais tolerante, mais contemplativo, ligado em coisas realmente mais importantes e belas, como observar o vôo dos beija-flores, o nascer e o por do sol, a luz do luar, um gesto de amizade...

Chegaram-nos lindos, apesar da miopia e da plesmiopia que já nos acometem.
Os avós e os netos são como arco-íris, onde a esquerda da parábola é a curva ascendente da vida e a direita a descendente, não menos bonita, ambas multicores e os extremos tocando o chão da inocência, juntos!

É por isso que os avós tratam os netos como coleguinhas de infância e aí haja traquinagens, boas gargalhadas e cumplicidade em tudo, até esconder dos titulares uma nota baixa na escola.

Estragamo-lhes os dentinhos com tantos doces que, se não nos impedem, ficariam ainda mais parecidos com a gente...!

A expectativa de vida atual permite-nos que sejamos bisavós ainda lúcidos. Lembro-me de meus quatro avós e cada um regou o meu coração com suas bondades. Faço a rima com saudade...

É assim que têm que ser os avós, lembrando que no final do arco-íris, não há um pote de ouro, mas algo muito mais valioso: um avô ou uma avó, loucos pelos netos!

A EXPOCRATO 2007 está chegando e será a ocasião perfeita para grandes encontros e encantamentos. O plano é reservar os trocados e curtirmos juntos em paz, ascendentes e descentes, com “monga” e tudo!
Crato.(Ce), junho de 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo

sexta-feira, 25 de julho de 2008

SONETO NOSSO, SOMENTE NOSSO



A felicidade é capaz de brotar do acaso, do destino um traço
Do encontro assim de nós dois, na praça dos nossos corações
O peito agora a saltitar por mil e uma razões
Vê-la surgir da incontida alegria do nosso abraço.

E de tanto apego e resfrego vieram os complementos
Para que entre nós não houvesse dúvidas, porém pranto
Pois exige a vida de quem ama a eles tanto
Saber que a felicidade também acompanha o sofrimento.

E assim, é seguir sem saudade de outrora
Que a nós não pertença nada, nem a vida
Melhor que a solidão da lua estéril, da terra eterna cativa.

Agora de mãos dadas jurar que a amo mais ainda, querida
Vem dos seus beijos a força que me ativa
Dizer a Deus muito obrigado a toda hora.

Dia dos Namorados.

Crato (Ce), 12 de junho de 2008.
Dr. João Marni de Figueiredo

ALMAS GÊMEAS





Tu te alimentarás do sorriso dela e padecerás com a tristeza dela.
Procura merecer aquela que te reservei, mesmo que não a mereças.
Sou assim, aposto em ti mesmo assim.
Sei que teu egoísmo e vaidade causaram dor em ti pela costela retirada...
Mas dor maior seria a tua solidão.
Valoriza a tua mulher sempre, pois ela veio de ti e ambos de mim.
Somente a mulher companheira pode aperfeiçoar o homem.
Se ela não conseguir, nada nem ninguém o fará.
Nem mesmo eu, teu Deus!
Nesse caso, jamais terás a resposta do “por que o céu é azul” ou “por que
o vento é rápido”...
Mas revelarei a ti sempre que só há uma certeza:
O amor é tudo!


Crato (Ce), 26 de julho de 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo.

VOCÊ E EU


A visão e o choque. Êxtase! Uma onda de calor tamanha, ordenando-me correr ao encontro e outra que me paralisou. Fiz do meu quarto clausura, passei a não enxergar mais os meus, só a ti, cristalizada em minha retina. Não quis mais ser o primeiro à mesa da minha mãe: toda minha fome era por ti. Meu desempenho escolar, que já não era lá essas coisas, piorou. evitei o espelho, achando-me feio - tinha espinhas! Fiz promessas, jurei a Deus e briguei com o sol várias vezes, antes da aurora. Meu coração é de uma fibra diferente, poderosa, suportando tanto sacolejo... olhastes para mim e , no aceno do sim, percebi o alcance das preces. Foi em mil novecentos e sessenta e nove, carnaval do c.t.c..
Que momento!
Passei a brigar com a lua apressada, mas fiz as pazes com o sol da aurora e com o espelho! Fátima, lá do meu quarto de adolescente, forças ainda põem-me diante de ti.
Te amo.
Saúde, parabéns.

Crato (ce), 20 de novembro de 2007
Dr. joão marni de figueiredo.

Mulher, minha mulher.



Desculpa-me,
por minha memória pouca;
por tantas vezes não ouvir teus conselhos;
por, às vezes, tirar os olhos de ti,desvirtuando o teu perfume;
por nem sempre recompensar o teu abraço;
por tantas horas desperdiçadas sem a tua companhia;
por tuas lágrimas derramadas ante minha insensatez;
por duvidar de tuas preces.
Obrigado,
pelos carnavais de 69 e 73...!
por ainda cedo lembrares de mim, quando pões
pasta na minha escova, e o bom dia que me desejas;
por esperares por mim para o almoço;
por teu olhar apaixonado, não menos o meu;
pelos nossos filhos e netos.
Parabéns para nós dois, nestes 34 anos de convívio matrimonial, alicerçados pelos
4 anos de namoro arrochado e indiscreto!
Por tudo.

Te amo.
Obrigado, meu Deus, Elo entre nós!

Teu João Marni

Crato (Ce), 18 de maio de 2007.

MADELEINE



Minha menina, por que não levaram teu anjo da guarda? Dorminhoco, negligente que foi, não faria falta! Mas tu não, garotinha linda e indefesa, agora longe do papai, da mamãe, dos irmãozinhos gêmeos, dos avós, da escola...

Fico imaginando tua aflição, teus medos, tua saudade, tua perplexidade, teu sofrimento, como já deves ter pedido pelos teus entes, pelo bichinho de estimação e teu travesseiro!...

Rogo a Deus todos os dias pelo teu sorriso de volta. Por um outro anjo da guarda para ti. Só para ti!

Mas se fosse eu o pai de vocês, não os teria deixado sozinhos. Bem disse Vinicius de Morais em “O Dia da Criação”:

“O HOMEM NÃO ERA NECESSÁRIO!”

Crato, (CE)

Dr. João Marni de Figueiredo

Obs. - Madeleine é a garotinha de 4 anos, inglesa, que foi tirada de sua família, à noite, num hotel de luxo em Portugal, enquanto seus pais jantavam fora.

terça-feira, 22 de julho de 2008

MÃE: A LINGUAGEM SUAVE DO AMOR



A natureza repete, programados somos. Seremos outros, mutantes, fustigados adiante. Hoje, após descermos das árvores, continuamos os mesmos quanto ao zelo com os filhos. Os casos contrários não cabem aqui. Valha-me Deus!

"Mom", já briguei por ti pela impaciência da tua mãe com teus cabelos (lindos!) e, depois por teres dormido num prato de sopa, tão exausta estavas. Adiante, fiz um pôster do teu ídolo, não mais eu, para que pudesse estender teus sonhos, novos horizontes. Tanta liberdade te concedi...

Já nos desgastamos muito, tua mãe e eu, pelos filhos, na trilha em que ainda desbastamos na ponta da flecha de cupido. As veredas existem, atalhos dos jovens. Olhar para trás, perder a conta certa dos rebentos, é a maior agonia dos pais. Lágrimas são pérolas nossas e que desabam de nossas janelas. Para conforto nosso, Deus é generoso e caminha sempre à nossa frente, facilitando o caminho árduo da família. No nosso caso, por bênção, a contagem só aumenta... Agora tens dois filhos e nós cinco. O primeiro teu é o sonho bom de todos. O segundo é a árvore do natal que se aproxima. Mães são poderosas, corajosas, firmes, valentes, lindas e capazes de fazer jorrar leite pelos filhos muito mais do que a “Bacia de Campos”. Melhor ainda, pois os corações são de baixa prospecção.
As fotos não revelam nada além do amor.
Cuida de tua mãe também.

Te amo.
Saúde.
Parabéns!

Crato (Ce), 26 de novembro de 2007
Dr. João Marni de Figueirêdo

DIA DAS MÃES



Mulher, que há milhões de anos, no período cenozóico, uma vez Lucy, deixaste as impressões na lama vulcânica quando instintivamente olhaste para trás, temendo pela vida do teu rebento;

Tu, que uma vez Eva, foste castigada por não postergar a procriação, tal e qual adolescente de hoje;

Tu, que embalas o sonhos de ser mãe, que exultas e ficas radiante quando concebes e carregas no ventre a razão da tua vida, deixando de existir para ti... que passas a rir ou chorar com o que ao filho acontece;

És capaz de nadar em águas turbulentas para salvá-lo, mesmo não sabendo fazê-lo. És também obstinada e nunca perdes a fé, a exemplo do Ingrid Betencourt, suportando um cativeiro de seis anos em meio à selva, às humilhações e maus tratos, acesa apenas pela tênue luz da esperança em rever os filhos.

Mãe, jamais mentes quando dizes que teu filho é o mais bonito, inteligente, inocente e o melhor dos homens. És símbolo de coragem e de responsabilidade, como aconteceu com aquela vietnamita, encontrada num buraco com seus filhos, durante a guerra, tendo negado ao seu algoz sobre seu companheiro com vários “não sei”. Mas quando indagada de quem seriam aquelas crianças, disse-lhe: “São minhas!”

Mãe, cuja maior queixa no consultório do pediatra é que seu filho não quer comer... Adiante, na juventude dele, não dorme enquanto não chega;

Mãe, feito Nossa Senhora, que mesmo sabendo desde sempre do destino reservado ao seu filho, Jesus, não foi capaz de segurar as lágrimas.

Parabéns a todas as mães, ricas ou pobres, santas ou pecadoras. Até às que abandonam ou agridem os filhos, pois doentes que estão, perdoadas são.

Tu que és filho, se não puderes comprar-lhe um presente, prenda maior será beijá-la e abraçá-la entre palavras como: “eu te amo, mãe!”.

Se distante estás, manda-lhe uma mensagem e, se já a não tens mais, lembra-te dela com alegria.

Presto homenagem agora à minha própria mãe, Maria Olga, num texto que ouso e espero, venha refletir o sentimento de todos pela sua:

Mamãe,
Do sopro do amor, no encontro aleatório dos códigos, iniciei-me na vida.
Alimentado como fruto em teu ventre, chorei ao deixar o silêncio e o morno de
tuas águas! Sorvi cada gota do teu néctar, enquanto maravilhava-me com teu olhar.
Nunca mais deixei de cair e de tentar novamente, desde que impelido a andar. Saí por aí e em lugar nenhum encontrei a paz, a entrega e a ternura como em ti, m
amãe! Em momento algum lamentaste o que te reservou a vida. Teu espírito é de continuar... Os filhos estão sempre a pedir perdão. Então perdoa-me, mãe, 70 vezes 7, Uma vez mais, quando perturbo o teu sono. És muito rica, pois em tempos difíceis, vendeste tuas jóias, exceto as do coração!
Te amo!

Crato (Ce), 11 de maio de 2008.
Dr. João Marni de Figueiredo

BRAVO



"Monalissa, monalissa, de sorriso nada enigmático!
Hoje, mais uma vez, saraste o meu coração. Rogo a Deus que Dimas te fecunde mais e mais, pelo que as pétalas se completarão em torno do grande centro, você, ó flor do girassol!Que cada um de nós regue cada pedacinho do todo, protegendo-nos nas tempestades... Tudo, tudo pelo teu riso, capaz de esconder teus olhos achinesados e que escancara tua bocarra numa gargalhada familiar memorável, no hábito de fazê-lo mirando o céu!
És tudo!
Parabéns!

Teu avô Cândido"

Crato, Outubro de 2007.
Dr. João Marni de Figueirêdo

NA ALEGRIA E NA TRISTEZA (Crônica para minha amiga e cunhada Rosineide)





Quando da descoberta do último reduto do muito jovem faraó Tutancamon, pelo inglês Howard Carter, na primeira metade do século XX, o que mais o impressionou não foi o brilho do ouro, a riqueza de detalhes artísticos dos objetos na câmara, mas um simples ramalhete encontrado no peito do monarca, provavelmente posto por sua mulher AKHESA (ANKES-EM-AMON). Suas lágrimas não deixaram vestígios no ramalhete, passado tanto tempo, mas não é difícil imaginarmos visualizá-las como pequenos diamantes em meio às flores secas, ainda hoje.

Cada um de nós, pares, passará por esse momento um dia. Diante da inerte cara-metade, só as lembranças ganharão vida nos primeiros olhares, nos recados, na aproximação tímida e no contato de mãos trêmulas e geladas, negando quentes corações.

Palavras, EVERESTES, de palavras, em juras e frases, promessas de fidelidade e de amor sem fim, ditas pela necessidade urgente de conquistar e de se apropriar do outro, num projeto de perpetuação DARWINIANO ou divino, alheio a tudo e a todos. Impérios desabam, reis e rainhas, pois "nada vive muito tempo, só a terra e as montanhas” (Canção da Morte, do povo CHEYENNE).

A perda do outro é o GÓLGOTA de cada um, mas jamais deveremos aceitar a solidão como companheira. O homem é o único animal que ri. “A solidão é fera, prima-irmã do tempo e faz nossos relógios caminharem lentos”... ( Alceu Valença)

A vida oferece-nos faróis em terras firmes, referência em mares turbulentos. Evidentemente refiro-me a pessoas que navegam e / ou navegam na união a dois, alheios às tempestades, melhor do que no mar morto do cotidiano dos que não amam!


Rogo a Deus que você salte logo do “... que me importa da vida (?)” para a vida como ela é: dadivosa, surpreendente, surrupiadora e às vezes bela. Felizes os que a adotam, pois frutificam e, mesmo a duras penas, verão ficar nos filhos das espirais de todos nós, os olhos, a boca, o caminhar e o temperamento daquele que foi. Deixou Deus ungüento para ocasiões assim: O tempo, pelo que suportaremos a falta, entenderemos as razões do outro, perdoaremos suas falhas e enalteceremos tão somente suas virtudes. Tudo ficará quase branco nas páginas, com o tempo. Assim, poderemos voltar a escrever nossa história.

Crato (Ce), 04 de julho de 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo

O PELICANO



Deus segurou o sol enquanto soprava esta esfera nossa, árida e errante, a multicoloriu com o verde das matas, o azul dos mares e dos céus, o branco das nuvens, o marrom do barro, o amarelo, o vermelho e o cinza das rochas. Segurou a lua, fazendo as ondas, as praias e os sonhos dos poetas. Criou as placas tectônicas para que a terra aflorasse em montanhas e cordilheiras, nascedouros de rios caudalosos após chorar a neve. Desenvolveu um núcleo quente feito o coração da gente e que mantém a temperatura do sistema com vulcões e gêiseres.

Somos gêmeos: vegetais, minerais e animais e vagamos pelo espaço á mesma velocidade, sabe Deus para onde... Em meio a tamanha exuberância, surgimos nós, os homens, blasfemamente tidos como a imagem e semelhança divina.

Deus é o criador, mas nós somos os criadores de casos, os destruidores, raramente solidários, frequentemente pragmáticos e quase sempre falsos e interesseiros. Desenvolvemos a mentira para atrair a amada quando perdemos a cauda do pavão (ou nunca a tivemos!) Estamos cada vez mais desmembrados, como filhotes de cobra: rastejando logo para longe, sem nem mamar, antes que seja tarde demais, cada um por si, em fuga com sua cota de veneno, fazendo do abraço instrumento de sufocação e morte.

Se existe mesmo a possibilidade de novas vidas, peço encarecidamente ao criador delas que na próxima seja eu um pelicano, símbolo da caridade e da paixão de Cristo. Em tempos de escassez, antes que as lágrimas me devorem, bicarei meu peito em nacos grandes e suculentos e alimentarei meus amores.

Pois é, bem disse Lya Luft. “O contrário do amor não é o desamor. É a indiferença”. Bom é dormir em paz, sossegado por não dar as costas a quem precisa. Não devemos priorizar o que é prioridade para o homem, mas o que é relevante para Deus. Lembre-se, “todos podem dominar a tristeza, exceto quem a possui” ( Shakespeare)

Crato (Ce), 22 de maio de 2008.
Dr. João Marni de Figueiredo

AVISEM AOS PÁSSAROS



Se eu fosse uma árvore, gostaria de viver todas as estações por anos numerosos, esgotando toda a minha seiva e deixando cair a última folha numa brisa matutina.
Dos meus galhos, que o homem fizesse pelo menos um cajado para que pudesse servir de apoio a alguém humilde ou idoso. Ou um cabo de guarda-chuva para o mesmo senhor. Nunca uma bengala, pois certamente correria o risco de não ser alívio, mas ostentação para algum arrogante vaidoso e depois, já fora de moda, ficar esquecido num sótão...
Meu tronco deveria voltar a compor o solo, levando consigo as mensagens dos namorados. Assim, teria esperança de que meus átomos se reuniriam novamente na formação de uma nova árvore. Avisem aos pássaros!

Dr. João Marni de Figueiredo
Crato (Ce), 05 de julho de 2007.

SOB O CÉU DO DESERTO



Necessário é que nos recolhamos e que fiquemos frente a frente com nós mesmos, não de um espelho, pois a imagem seria invertida.
Falo do mergulho ao nosso interior, buscando nossos motivos, com a alma nua e em silêncio, capaz então de perceber nossos ruídos, nossas dores, nossas culpas e os aplausos pelos nossos acertos.

Não será uma balança, posto que gramas do que fazemos pelo próximo pesam muito mais do que quilos por nós mesmos, quando no nosso prato só a vaidade, o egoísmo, a insensatez, a grosseria, a ingratidão e a cegueira - apesar de tanta luz -, e a mudez quando não gritamos pelo outro diante de uma injustiça!

Isso tudo deveria dar dó na gente!... Mas a percepção de que somos capazes de gestos bonitos, como perdoar ou “fazer o bem sem olhar a quem”, e saber que aquele sorriso que nem é para nós ficarmos felizes à distância, dá-nos esperança. É gratificante!
Entregar-se, doar-se, arriscar-se, não pensar mais em si.

No silêncio, olhar para cima e maravilhar-se com as constelações, tendo a convicção de nossa pequenez e que fizemos o que deveríamos ter sido feito!...Se assim for, ao amanhecer e durante todo o dia, o calor não nos incomodará e á noite o frio cederá lugar á beleza!

De quem temos que lembrar?

Crato (Ce),14 de julho de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

O CÉU ESTÁ EM FESTA



O dia vinte e nove de agosto faz-nos parar o que estivermos a fazer, para lembrarmos da figura do nosso querido e inesquecível pai, Cândido Figueiredo.
Desde crianças que assim tem sido para nós este dia. Cedo ainda, de madrugadinha, quando éramos acordados pelos acordes do Maestro Azul, com a banda de música do Crato, as palmas e as vozes dos amigos de nosso pai, no “parabéns pra você...”
Imaginem, não por que Cândido Figueiredo fosse alguma autoridade política, jurídica ou eclesiástica, mas por ser pessoa comum, amável, aglutinadora das amizades de todas as classes em torno do seu enorme coração.

Passados tantos anos sem a sua presença física entre nós e sem a banda de música com a corte de amigos, tivemos hoje a alegria indescritível de ouvi-los com mais intensidade ainda, com fogos e tudo, na certeza de que não se morre não, - quem passa é a banda, - quando o amigo Assis Landim telefonou lembrando-nos do natalício de papai, que ainda o emociona, e faria oitenta anos de idade terrena.

Perguntou-nos, o querido amigo Assis, se já havíamos rezado pelo menos uma Ave Maria para ele.
Querido amigo, irão ao céu hoje todas as Ave Marias e Pai Nossos que cabem num rosário de pura alegria, sem risco de que a mensagem volte por não ter o mensageiro encontrado o aniversariante em casa.

Crato (Ce), 20 de agosto de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo.

MARIA ALICE



Ô coisinha linda, dona da minha vida.
Adoro quando reivindicam teus cabelos, teu narizinho, tua boquinha... Olhando para ti, sem dizer nada, sei que só tens olhos para mim! Que todos façam juras de amor por ti. Que bom! Serei aquele sem afetação, porém, atento para que não tenhas preocupações maiores. Serei o blasfemo, por não confiar em anjos da guarda. Serei o mais feliz no jardim, rindo por tuas peripécias com as águas. Logo mais te levarei à escola, a pedido dos teus ocupados pais. Que dia!

Na transição abissal de tua vida, direi mentindo que tua música é linda e que adoro teus modelitos. Mais adiante, fingirei não ter visto que tua saia está ao contrário. Serei o ultimo a bater á tua porta quando fizeres de clausura o teu quarto. Pedirei docemente que dividas comigo tuas dores e direi também que sou teu avô, de mãos fortes além da fera, porém brandas para a chuva; que abras a porta para todos os teus amigos, que serão muitos.

Lembra-te de mim quando ouvires a música “Adiós Mariquita Linda” (adaptação):
“... bem vinda, coisinha da minha vida;
te adoro como nunca amei;
chega a mim,motivo da minha vida;
és o amor dos meus amores,
o perfume de mil flores,
a causa da minha alegria!..

Vozinho João Marni
(17º dia de Maria Alice)

BRENO



Já tens quase o perfil do adulto em estradas rodadas, longas e tortuosas. Mas teu rosto imberbe, de olhar tímido e lindo, nos revela que ainda és uma criança. Tens um carinho especial por tua mãe e sabemos quão difícil foi dividi-lo com alguém. És terno e carinhoso. O que se confirmou em tua apreensão no bloco cirúrgico (aos doze anos!) e na alegria não disfarçada pela chegada de tua irmãzinha. És um mestre na arte da convivência: discreto, alheio a tudo que perturbe a ordem e o sossego dos teus amores. Em ti só vejo luz.

Te amo muitíssimo.

Crato (Ce), 24 de outubro de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

segunda-feira, 21 de julho de 2008

MUITO PRAZER, TERCEIRA IDADE.



Precisamos refazer a idéia de que estamos tão somente a caminho do fim, num processo inexorável de deterioração. Por que necessariamente agora, com cabelos brancos e experiência, está o idoso em declínio e não em transformação, - como tudo na vida? Onde é próprio da senilidade, mora o encanto. É imperativo para a felicidade dos que alcançam este degrau, que viajem com a vida, tal e qual fruto maduro que cai, apenas transferindo sua energia para outra estrutura; como a água do jarro jogada no riacho: não tem mais a forma do jarro, fazendo parte agora do riacho, pois somos águas correntes, inquietas. Não é o começo do fim, mas a busca por novos oceanos...

A vida se encerra quando finda a juventude? Por falar nisso, quando é mesmo que ela, a juventude, acaba? Um amigo confessou-me que não foi a percepção da perda da elasticidade da pele, nem os cabelos brancos e escassos, mas a dor que sentiu quando, em um certo dia, sentou em cima de suas próprias bolas! Disse-me também que há vantagens de ordem prática chegar-se à velhice: podemos competentemente, com as mãos trêmulas, espalhar canela em canjica, andar nos coletivos sem ter que pagar e, vez por outra, engolir um “azulzinho” e torcer pelo resultado. Não precisamos mais temer a vastidão do futuro.
O idoso encontra-se naquela fase em que os homens, naturalmente, afastam-se do culto ao corpo, e aproximam-se da filosofia, condição muito mais exuberante! Seria sábio e interessante não interferirmos na obra escultural, dinâmica e natural que é o corpo humano, de onde somos inquilinos. Para que cirurgia plástica “embelezadora”? Quer ser sua própria ficção, desconhecendo-se?

O corpo paulatinamente perde a agilidade e a força, a expressão corporal muda do pulo do gato para o compasso lento e sereno. A visão diminui a acuidade, avisando que não se precisa mais ir à caça, mas ficar mais próximo da família. A audição também não é mais acurada, um prêmio para que não se ouçam mais tantas coisas vãs. Ter ótima memória apenas para fatos do passado distante, provavelmente serve para que se tenha melhor capacidade de reflexão da vida, sendo motivo de grande alegria poder rememorá-la quando não machucamos deliberadamente as pessoas com as quais nos relacionamos. Se a elas provocamos sofrimento, as lembranças são o preparo para o pedido de perdão. Recomenda-se que em conversa com ele (o idoso), puxemos por assuntos históricos, fatos de há muito tempo, onde sua memória encontra-se intacta e pode fazê-lo fluente.
A libido diminui, afinal para que reproduzir agora, se não dá para acompanhar o desenvolvimento do rebento? E quão patético é querer a performance dos vinte anos!
Fica-se mais seletivo, a energia é usada com parcimônia e melhor distribuída em atividades também prazerosas e sociáveis, como ler, curtir os amigos, a natureza, a companheira, voltar a brincar fazendo a alegria dos netos, para os quais pode-se confeccionar antigos brinquedos!

Embora aparente fragilidade lá adiante, o ser humano se aborrece mais facilmente e é capaz de fazer valer suas vontades, bastando que lhe faltem com o respeito ou não compreendam sua rotina com seus objetos em seu cantinho predileto. Nesta fase gosta de segurar a mão da amada e dizer-lhe tudo, quase sem falar nada.

Se por coisas do destino tiver que ir para longe do convívio familiar, num abrigo, é bom que se diga que o experiente não é frágil como um cristal, nem se acaba aos cacos, mas não dispensa o polimento e que não se deve jogá-lo ao chão! Está apenas mais próximo de devolver sua "vestimenta", pois permitiu-lhe Deus que a usasse até o rompimento das malhas, abrigando um espírito, este sim, do interesse divino.

É lamentável que um ser tão doce seja tratado de forma ingrata e desrespeitosa, num Brasil para poucos, com uma aposentadoria irrisória ter que enfrentar filas enormes na madrugada em busca de uma assistência médica caótica, ter que suplementar a renda trabalhando, quando os pés já não lhe obedecem mais e, pior, sem emprego para os seus descendentes, vê-los beliscar seus parcos ganhos, num estímulo à preguiça e à exploração.

Este ser deveria chegar ao pódium da vida vivendo-a plenamente e não apenas suportando-a, mas elaborando-a sempre, com alegria.

ORAÇÃO DO IDOSO
(João Marni de Figueirêdo)

Ó mãos, sagradas mãos, de pregos transpassadas,
Ergam-me pela manhã no despertar,
Conduzam-me por todo o dia,
Afaguem-me nas minhas dores,
Devolvam-me ao leito à hora do recolhimento,
E, por ocasião do meu final, abracem-me para todo o sempre.

Crato, 30 de maio de 2008.
Dr. João Marni de Figueiredo.

Meu doce Ribamar



Deus e minha família têm testemunhado tua bondade. Nós te amamos. Mandei para ti a minha única jóia, Fátima, para que o tocasse e falasse contigo docemente e para que dissesse que o teu sofrimento também é nosso.

És um ótimo filho, um irmão dos sonhos, um amigo cativante, um pai de rigor e de amor, para sorte dos filhos teus. Um marido sortudo por tamanho amor de uma mulher, porque és bom.
É inútil nos preocuparmos com os filhos, com o destino deles, pois andam na nossa estrada à força...

Com essa, meu compadre, vamos rir juntos!

O mesmo sol que feriu tua retina quando nasceste, fez alongar teus ossos, roubando de ti a meninice. Depois, por achar que nem só de trabalhar vive o homem, feriu também a tua pele... A palavra que encontro agora nas águas do meu coração para ti, é Serenidade. Somente com serenidade, nu de tudo, consegue-se falar com Deus, aquele que criou o sol. Converse com ele, sem medo, sem raiva, sem ressentimentos, mas com gratidão, de filho para pai. Assim, não sentirás mais frio, nem dor, só um abraço, o abraço que a tudo cura!

Beijos,
João Marni

sexta-feira, 18 de julho de 2008

HOJE EU VI DEUS



Na cura inexplicável dos enfermos;
...no sim da minha amada e nos filhos que vierem;
...na chinela de mãe e no olhar incisivo de pai;
...no sorriso e nas gargalhadas das crianças;
...na felicidade dos pais ao verem felizes os filhos;
...na força da superação que é a cara da criança que cobre distâncias e come poeira em busca de sua escola, pelo caderno puído e pelo chão que é a sua escrivaninha, na descoberta e na alegria indescritível da primeira palavra ao juntar as letras;
...no olhar perdido do idoso e na memória para longe;
...na graça que seria morrermos antes dos filhos;
...no sangue do santo e do herói;
...na mão estendida e na divisão do pão;
...no pensar; e pensar é vagar, é viver em total liberdade;
...no amanhecer, no entardecer e na noite estrelada;
...na chuva, na garoa, na neve, no granizo e na aurora boreal;
...nas tempestades, nos furacões, nos vulcões, nos maremotos e terremotos;
...nas águas límpidas das fontes e córregos e no barulho das cascatas;
...nas quatro estações;
...nos cinco sentidos, mesmo se um dia a vida parecer não ter sentido;
...no pólen que as abelhas carregam nas pernas;
...no ninho do beija-flor e na casa do joão-de-barro;
...no estômago do urubu;
...na confiança dos sabiás pelo ninho na varanda da nossa casa;
...no vento que balança as folhas e também os cabelos da minha amada;
...no vácuo absoluto;
...na bola azul que é nosso planeta;
...na descentralização da terra por Galileu, desnudando nossa presunção;
...nas elipses de Copérnico e nas eclipses daí advindos;
...no mínimo do átomo, no máximo das supernovas, das supergaláxias e no buraco negro;
...na igualdade entre os homens sob seu justo olhar;
...na advertência ao homem e no perdão que lhe concede;
...na transformação do homem, qualquer homem, em pó!!!

Crato (Ce), 29 de agosto de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

UMA LEGIÃO DE PEQUENOS HERÓIS



Criança é um serzinho que acorda, faz o desjejum com os olhos remelados e á força. Vai para a escola ainda sonolenta por não ter ido dormir cedo e, no carro com os pais, reclama da vida que tem. Lá, estuda brincando, lancha e recreia; volta para o almoço e dana-se até que a mãe o chame para o dever de casa, volta a danar-se, lancha, brinca, janta e finalmente dorme após o leite achocolatado. Todas as crianças deveriam ter essa rotina, mas não é bem assim: observamos, com muito pesar, outras que mal dormem porque não há um colchão, uma rede, um cantinho que seja, ou porque o barulho do estômago as acorda. Acordam, procuram o que comer, não acham e partem a pé para a escola, de olhos na merenda do Ministério da Educação. Às vezes não tem, porque a roubaram. Voltam para casa com cérebro e os intestinos vazios. Lá a mãe já fizera das tripas coração e salgara com lagrimas a primeira refeição de seus filhos. Não vale repetir. Ordena-lhes para irem logo até a padaria da moda e lá ficam, a tarde inteira, todos os dias, - muitas vezes postas a correr-, fazendo-se notar e suplicando: “ei, senhor, se sobrar uma moeda, você me dá”?

Às vezes cai em suas mãos uma moeda, ou pão, ou não. Depende do nosso humor, da indiferença ou da nossa indignação. Mas achamos que criança – não o menor – não tem culpa de nada. Essas das quais lembramos não nos abordam com canivete ou caco de vidro. Passei a não ficar indiferente ao chamado da consciência de minha infância bem cuidada e resolvi então doar-lhe um pão por dia, trezentos e sessenta e cinco por ano. Já está no orçamento. Moeda não, pois pode parecer esmola ou estimular a malandragem ou a mendicância. O pão é gesto de amizade, de divisão, de comunhão. Vamos todos nessa?

Nada de não ou cara feia, só a certeza de que uma atitude, mesmo mínima, alivia um sofrimento e escancara um sorriso, mesmo naqueles sem os incisivos centrais superiores, típicos dos seis aninhos.

Crato (Ce), 12 de setembro de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

quinta-feira, 17 de julho de 2008

GRATIDÃO ( Para meus filhos e netos)



De onde estou, em lugar privilegiado, iniciando esta crônica, tento compreender as desigualdades, observando os telhados distantes. Daqui vejo praticamente toda a cidade, com casas que dividem o mesmo espinhaço, contíguas que são. Aqui do alto, e à distância, não dá para que se escute o barulho próprio do movimento das conglomerações urbanas. Muito verde à minha volta e a rua onde moro é um silêncio só. Nosso jardim pertence aos pássaros.

Seria cômodo e egoísmo da minha parte, com essa brisa que me beija, ignorar como vivem as pessoas lá no burburinho, no fluxo do ir e vir. No entanto, numa lufada maior, como que num bofete, o vento adverte-me para que não as relegue e que as veja como possuidoras de todos os poderes que têm para arquitetar e concretizar suas vontades, seus sonhos.
Isso tudo faz-me lembrar Recife, num pequeno apartamento de só um quarto, cuja visão pelas duas únicas janelas logo esbarrava no paredão do viaduto da avenida João de Barros. O ruído era tão perturbador pelos veículos de pessoas apressadas, que havia necessidade de por algodão nos ouvidos, o que melhorava a concentração no ato de estudar. Por ironia, o nome do prédio era “Bela Vista”
Nada pode ser mais verdadeiro e de bem querença do que a orientação que os pais dão aos filhos para que estudem. E também não há nada mais gratificante do que colher os frutos desse apelo.
Fortunas existem por herança, loteria, por razões duvidosas ou tenebrosas... Mas aquela advinda da abnegação pode não ser tamanha, mas certamente tem a simpatia divina. É assim que entendemos uma bênção. Deus nos diz, “vai que te ajudo”.
Por generosidade Vossa, Senhor, nossa casa é hoje ampla, farta, acolhedora e panorâmica. Tendes dado saúde a seus moradores, vossos filhos, e olhos que sempre vos agradecem. Compreendemos também que a escolha deste nosso canto não foi por lei do acaso, mas um prêmio que serve de incentivo a todos os que escutam os conselhos dos pais. Somos capazes de vislumbrar a poeira do burrico a pelejar com a Família Sagrada por um lugarzinho onde ficar...
Por gratidão, meu Deus, esta casa é vossa. Disponha.

Crato (Ce), 26 de setembro 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo.

O TEMPO



No engatinhar da raça humana, a noção de tempo limitava-se à observação do movimento das estrelas ou à intensidade do brilho solar. Passaram-se muitas luas e muitos sóis até que as civilizações aprendessem a identificar no tempo as estações do ano. Séculos se foram até a teoria da relatividade de Einstein e a precisão suíça dos relógios. Mas o que nos fascina mesmo e o que nos motivou a escrever essa crônica, é o tempo como lenitivo, intervalo do refluxo das marés, qual na canção COMO UMA ONDA, de Lulu Santos: - “... nada do que foi será igual ao que a gente viu há um segundo/ tudo muda o tempo todo no mundo”...

É esse tempo que age como bálsamo, alívio na grande dor da perda. Que enxuga nossas lágrimas e nos tira da desolação no amanhã. Traz de volta a cor rosada e o semblante alegre à mãe que chorou ontem, faz-nos esquecer um desafeto e tranqüiliza nossa alma após sepultarmos os entes queridos. Diminui nossas culpas, se as tivermos; pede carona ao passado e lá, amigo da memória, permite que abracemos nossos bons momentos e que reflitamos sobre nossas distorções da vida.

É o apagador do quadro negro das nossas dores. Somos o antes no agora. O passado a onda já lavou e levou. Hoje é o grande momento. Deus não retirou o sol, a lua nem as estrelas, quando perdeu, feito homem, seu astro maior. Não deixou na escuridão os outros filhos. Com o tempo perdoou-nos, sob uma condição: que ficássemos à deriva, tal barcos desmastreados, quanto ao terceiro estágio do tempo, que só a Ele pertence – o futuro, a outra ponta do elástico do Khronos. Daí a verdade na expressão popular, de que “o futuro a Deus pertence”.

É a casa onde mora a grande dúvida do homem. Pode ser o céu, pode ser o inferno. Somos meros arrogantes, infinitos apenas no nosso breve tempo!

Crato (Ce), 02 de outubro de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

FILHOS



Filhos são tudo para nós. Quando pequenos, não dormem sem um balanço ou sem uma história. Pela manhã, ao acordarem, abraçam-nos com aquele cheirinho maravilhoso, típico deles, e já nos pedem algo. Adiante, crescidos, não dormimos nós enquanto não chegam! Preocupam-nos se não comem, se não estudam, com quem andam, o que fazem; interferimos como se vestem, reclamamos quando falam alto, se não escovam os dentes, se borram as roupas de baixo- as quais lavamos-, se escutam as músicas deles, se falam entre o grave e o agudo... Quando namoram, queremos saber de seus pares, para dar-lhes notas. Não damos chance nem que aprendam e protestamos sobre seus odores, sem valorizarmos suas dores. O fato é que, a partir deles, quase perdemos nossa identidade, não sabendo mais quem verdadeiramente somos, sem tempo para introspecção. Dói em nossas consciências se compramos um par de meias que seja sem que pensemos neles. Melhor usássemos só alpargatas...

Chutaríamos nossos filhos crescidos dos ninhos se plumas ou penas tivéssemos. Mas não as temos. Tirou-nos Deus as penas, pondo-as em nossos corações, recanto dos nossos ais. Talvez isso explique porque choramos quando vão e nos alegramos quando chegam. A casa de sempre são nossos corações. Se adoecem, adoecemos mais ainda. Ao recuperarem-se, ficamos em oceanos de paz. Mas se um dia a vida nos reservá-los mortos, invocaremos ao Misericordioso que os acompanhemos também.

A vida é um legado tão extraordinário que somos impelidos a homenagear e agradecer àqueles que nos antecedem e a proteger a estes que nos sucedem, a todo o custo. Pelos filhos, o discípulo Pedro não teria ouvido o canto do galo. Dirá três vezes!

A grande indagação é sobre a melhor maneira de educá-los, discipliná-los. Não há uma fórmula única, mas o diálogo e a paciência predominam em todas as culturas. Seria como a teia da aranha na tensão certa: nem demasiadamente frouxa, nem tão esticada. Por “reconhecimento”, de presente, dão-nos netos. Não é um grande momento?

Cuida, senhor,
... para que tenhamos filhos e que os beijemos até quase desbotá-los;
...para que nossas mãos os soltem somente quando puderem andar por si próprios;
...que não percebam nossas dores e nossas lágrimas, garantindo-lhes o sorriso;
...que se preciso for, enganemos a nossa fome, para que lhes sobre o alimento.

Proteja, senhor, a nossa família num grande abraço. Todavia, seríamos indignos de tamanha bênção, se pedíssemos apenas pela nossa. Então que abrace a todas.

Crato (Ce), 06 de outubro de 2007.
Dr. João marni de Figueiredo

ZEUS




Que ninhada! Certamente fora desmamado cedo, o que justifica sua inquietude. Subtraído do seio da família, sem suas tetas e designado como presente para nosso David, amigo do dono, patinou em piso liso, o que afetou seus trens. Veio de Recife a bordo de um caminhão, por amigos. Chegou bonito a nos enfeitiçar, conquistando logo a todos.
Borrou e urinou o piso da sala, aos berros meus e às gargalhadas dos chorões de hoje... Percebi que chegara o “cara”, o teimoso, o debochado, o esculhambado. Chegou a mim, por sorte mais tolerante eu. – Tempos idos o teria jogado fora pelo rabo-. Tenho um neto, filhos e mulher de corações moles. Fui suportando e, de tantas concessões, sentiu-se quase gente.
Passou a fazer cocô e xixi em tudo que era lugar, latir fora de hora e derrubar tudo. Malinação. Entrava na piscina dos pequenos e depois sacudia-se próximo a nós, só pra sacanear. Por seu porte quase grande causava terror entre as crianças não contumazes, mas adorava especialmente a elas, como que tentando conquistá-las.
Ficou corpulento, gordão, - culpa de Fátima- por tantos mimos e excessos no prato. Por uns tempos gritou com os trens artríticos, ainda jovem, quando foi desenganado pelos veterinários. Tratei-o com corticosteróide e tudo. Ficou bom! Gozei de prestígio na família, até a segunda crise de hoje, dois anos depois. Por vezes, reclamava com ele como a um filho: Isso sim, isso não, saia, volte, largue...! Por incrível que pareça, tinha o senso de responsabilidade de quem ama, pois à noite, ao chegarmos, corria em torno da casa, como avisando-nos que tudo estava bem, fiel que era. Agia assim por cada um que seu faro e seus olhos registrassem como seus, apesar de sua índole mansa.

Era um teimoso, sem limites. Um cachorro de um olhar tão pidão...
Esparramava-se no piso frio das varandas, onde gostava de ficar e olhava para mim um olho de cada vez, querendo adivinhar o meu humor. Foi criado solto como em batina de padre. Era formoso, mas morreu donzelo, o que assino como causa mortis, posto que não encontramos uma fêmea disponível da mesma raça, visando uma linhagem magnífica, e contrariamos a Darwin, negando-lhe o cheirinho de qualquer cadela passante. De tão bom e inquieto, coube a mim a árdua tarefa de canalizar seus ímpetos e, nesse momento, quem mais chora sou eu. Carimbou a vida da gente, imprimindo sua pata no último chão de cimento novo, antes de partir para a saudade. Era um labrador. Preto.

Crato (Ce), 29 de setembro de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O MURO DAS LAMENTAÇÕES



O grande amor – retratado no próprio Deus e na amada – e os amigos, são conquistados. É preciso algum tempo para uma aproximação maior, um reconhecimento e aceitação, após a revelação dos corações. Um processo que envolve troca de energia espiritual e, por fim, a entrega em clima de total confiança mútua. No entanto, a relação do homem com seu representante social, político, é irresponsável. Não há a preocupação com a qualidade moral ou de compromisso daqueles que administram o destino de um povo, sua saúde, educação, segurança etc. Essas entidades podem estragar a excelência de nossas vidas. É como se fosse o suco de laranja, quando um só gomo estragado torna imprestável o todo. Quando indiciados, escondem-se sob o manto de suas próprias leis e são ajudados pelos demais a permanecerem em nossas jugulares, tais vampiros eleitos. Chegam a renunciar para não serem cassados, voltando imaculados no pleito seguinte. Têm foro privilegiado, - coisa de pai para filho -, chegam a julgar os colegas em votação secreta, para que não saibam quem protegeu quem... Tristes ficamos, em solilóquio, a questionarmos nossas escolhas. Melhor do que aceitarmos com o rabo entre as pernas, qual subordinados da matilha, onde o alpha é um desses Calheiros do cenário político.
Por que somos tão passivos e tolerantes com eles? Deveríamos ser tolerantes e compreensivos com nossa cara-metade e com os amigos, muitos de longas datas, com direito a mais perdões. Sim, a amada e os amigos, apesar de serem do peito, à vezes revelam-se fracos, o que nos remete à condição humana.
Mas não deveríamos perdoar aquelas pessoas urticantes, pagas por nós para zelar pela coisa pública. Mais um ano eleitoral se aproxima. Valorizemos bem nossos ombros, lugar onde dormem e acalentamos nossos filhos, onde apoiamos e permitimos que chore o nosso amor.
As mãos dos usurpadores de nossas esperanças, também costumam pousar lá e, antes da saída, percutem nossas costas com falsas promessas.
Amargaremos o dia em que o horizonte, para nossos filhos, no futuro, poderá ser apenas uma linha que se afastará sempre à aproximação deles: uma miragem. Morrerão sedentos, por culpa nossa, por havermos jogado nuvens de confetes em gente não merecedora, cujas, “qualidades” não cabem numa só unidade desses diminutos papéis esvoaçantes. Depois, não faz sentido ficarmos batendo com a cabeça no muro, onde estiveram sempre os nossos sonhos, novos horizontes. Deus não está petrificado em nenhum muro, nem é chegado a lamúrias ou lamentações. Melhor a linguagem simples e sincera que certamente aguça a atenção Dele, como quando estendemos a mão para o carente.
Estamos chegando ao final de mais um ano, Lutemos para que o próximo seja o marco de dias melhores. Nós temos o poder. Desejamos-lhes um Natal de luz, de sincrônica luz, atração dos vagalumes em encontros verdadeiros, duradouros, felizes, como preconiza o Filho de Deus, desde a manjedoura!


Crato (Ce), Dezembro de 2007.
Dr. João M
arni de Figueiredo

BIG BANG (Encontros e desencontros)



... e criou Deus o Universo. Na abertura, com fogos de artifícios, empurrou-nos à deriva, num grande espirro, em partículas aleatórias de luz...
Estamos viajando e nossos corações também.
Usamos nossos braços como tentáculos, querendo segurar alguém!
E, na escuridão e no silêncio do espaço, vejo e ouço o teu coração!
Segura-te a mim, “ pois só assim serei feliz, bem feliz”!...
Obrigado, meu Deus, pelo coração meu que fala!...

Crato (Ce), junho de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo.

AMIGO




Palavra que ouvimos à nossa mesa e além muros por nossos pais. Referência. Porto seguro. Um amigo se faz presente, não espera. Deseja, de coração, o melhor para seu amigo, e muitas vezes, é anônimo quando o acode. De testemunho, basta-lhe Deus. É desprendido quando diz: Tenhas a minha amizade e o meu amor; usa-os enquanto te faz bem. É um mestre na arte de ouvir e de falar. É incentivador, enxergando no outro apenas qualidades, sendo renegados os defeitos, por serem comuns demais. Não é vigilante como o fofoqueiro nem intrometido, mas atento. Um padrinho sem batismo. Não é como as bolhas do champanhe, mas o sabor: duradouro, memorável, inesquecível. Unanimidade na família. Que tudo de bom aconteça a ti e à tua família.

Um abraço do amigo João marni.

Crato (Ce), 31 de dezembro de 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo

AO PAI CELESTIAL




Meu Jesus perdoa-me por te fazer chorar e sangrar, repetindo a
Via Sagrada, todas as vezes que não sigo os teus conselhos;
É como se eu te jogasse ao chão novamente, por acrescentar peso à tua cruz, tal como ocorreu na 3ª ,7ª e 8ª estações,
Fazendo-te percorrer a todas elas, rumo a crucificações sucessivas.
Deveria mesmo te ajudar como o fizeram Simão, na 5ª, e verônica, na 6ª estações. Meu Deus, tira de mim essa culpa, prometo enxugar-te, matar a tua sede e devolver tuas vestes.
Meu pai, livra-me de todos os martírios e calvários, pois sou frágil e medroso, criança ainda em busca de Ti...!

Crato (Ce), 28 de junho de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

À MÃE CELESTIAL



Ó MÃE DO FILHO ADORADO, DO IRMÃO PERFEITO, DO AMIGO DE TODOS OS MOMENTOS, JESUS;
Ó SENHORA CONSELHEIRA NOSSA, QUE SUBJUGAIS A DOR E A SERPENTE;
Ó SANTÍSSIMA E PIEDOSA, QUE EMANAIS A LUZ DIVINA;
Ó VIRGEM DO MANTO SAGRADO, RAINHA SOBERANA, O ROSÁRIO É
O SÍMBOLO DO VOSSO AMOR; VOSSOS PÉS DESCALÇOS E VOSSO
NOME, MARIA, DIZEM-NOS QUÃO SIMPLES E PRÓXIMA A NÓS SOIS
E VOSSAS CORES, O BRANCO E O AZUL, NOS FALAM DE VOSSA
PUREZA E NOS APONTAM PARA O ALTO.
INTERCEDEI JUNTO A DEUS, NOSSO SENHOR, PELOS HUMILDES E OPRIMIDOS, PELOS DESOLADOS, PECADORES E INJUSTIÇADOS,
PELOS DOENTES E FAMINTOS, PELOS QUE PERDERAM O SORRISO E
A ESPERANÇA E TAMBÉM PELOS QUE NADA DISSO PASSAM.
ROGAI POR NOSSA FAMÍLIA E FORTALECEI NOSSOS LAÇOS EM
TORNO DE VOSSA LUZ.


AMÉM!

Querida Fátima,

Este poema-oração surgiu por inspiração
ao observar as mães gestantes e as da pediatria
durante meu plantão noturno de hoje, nos
corredores da maternidade, tocando e
silenciando-se diante da imagem de N. Senhora.
Um presente para nós, especialmente para ti,
Fiel tão fervorosa.
Um beijo.

Crato (Ce), 20 de junho de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

A BENÇÃO PAI!... A BENÇÃO MÃE!...




Sabe-se como é difícil educar os filhos, ensinando-lhes boas maneiras, cultivando neles o gosto pelos estudos, a respeitar as instituições, tudo enfim de fundamento para suas ações. Investir lá no começo, na infância dos primeiros passos, quando antes de dormirem ou ao acordarem, até mesmo por ocasião de breve afastamento, ouvíamos deles aquele apelo bonito: “ a benção pai, a benção mãe”, e respondíamos com o maior carinho e amor: “Deus os abençoe!”


Não temos observado nos dias de hoje tal praxe. Lembro-me, tempos idos, inclusive de adultos ainda dirigindo-se assim, doce e respeitosamente a seus pais.
Devemos permitir aos filhos que caminhem por aí, sem olhos vendados, sem os passos vacilantes ou monitorados, pois só assim teremos desenvolvido neles a disciplina serena, a consciência de fazer o bem, encontrando felicidade no gesto do acerto. Deverão ser filhos de pais amorosos, participativos e vigilantes, nunca arrependidos por um puxão de orelhas ou uma lapadinha nas pernas dos infantes mais atrevidos ou desgarrados, o que certamente não terá sido em vão! ( melhor do que uma psicologia permissiva, não reflexiva).
Quem não se lembra daquele olhar de “quem-manda-aqui-sou-eu”, de nossos pais? Não havia os horrores de hoje e, nessa escala, nem pensar!
Não é necessário que sejamos espelho, pois somos falhos. Até porque espelhos não refletem a realidade de ninguém. É preciso, sim, que sejamos livres de culpas, vez que tentamos ensinar-lhes que o segredo pode estar no mergulho ao interior de cada um de nós, lá nos bosques da infância bem cuidada! Do contrário, incorreremos no erro de assumirmos seus desmantelos como sendo nossos, culpa nossa! Neste caso, o travesseiro será um tormento, na fase de nossas vidas em que gostaríamos muito de “viver nas nuvens”, tal a leveza e a felicidade pelo dever cumprido!

Crato (Ce), 24 de maio de 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo

CONCURSO PARA ANJO DA GUARDA




O anjo da Morte está ali, não há como escapar, não avisa e nem dá prazo: é perverso. Que argumentos teríamos a persuadi-lo para ainda não nos levar? Provavelmente tentaríamos iludi-lo com razões afetivas, familiares, esquecendo-nos que já estamos sujos demais.
E de uma criancinha, que esperaria o Anjo das viagens não perdidas que dissesse ela? É um “cara de pau “esse” papa anjo “! Criança não avalia a vida, apenas corre pela sua superfície, vivendo sabiamente o presente, sem projetos. Livre! Precisa ser melhor amada, melhor cuidada por nós adultos, pais e avós, fazendo a nossa parte e pedindo a Deus benção e proteção. Crianças são maravilhosas máquinas de afeto, esperança da raça e do planeta, como Isabela, Luana, Madeleine, Anne Frank e tantas e tantas outras.
Onde se encontrava o Anjo da Vida, o que estava a fazer quando elas foram colhidas antes do futuro?Por que trabalha com mais “competência” e dedicação o outro anjo, o da Morte, sempre à espreita, sempre tão rápido?De onde adquire tamanha performance? Estará o Anjo da Guarda com osteoporose, artrítico, surdo, cego ou com Alzeheimer? Será ele sócio do outro em alguma funerária? Sendo um guardião, o Anjo da Guarda não deveria esperar pelo livre arbítrio de uma criança, já que a mesma não tem discernimento nas escolhas e dos perigos... Se caminhas lado a lado do teu pequeno protegido nas aventuras dele, deverias não descuidar um só segundo, ser mais rápido. Afinal, para que as asas?
Que o criador mande publicar edital de concurso publico para novos anjos da vida, visto que o homem se reproduziu demais, após o “Crescei e multiplicai-vos”, sobrecarregando os já existentes. Que exija para inscrição apenas quem não tenha ascendência corrupta ou não distorça nem elabore mal as leis, não minta e não se disfarce sob o manto de qualquer ordem, religiosa ou liberal. Queremos para nossos filhos anjos mais presentes, podendo ser mesmo de carne e osso, - matéria feita para o braço, - que atendam suas necessidades e protejam sua dignidade, como os que já existem nas noites de algumas cidades (Anjos da Noite), acudindo moradores de rua, ou os representados por ótimos professores, ótimos médicos, ótimos policiais, ótimos funcionários públicos etc., mal remunerados, porém de grande coração.
Os novos anjos ouviriam de seus pequeninos protegidos, a todo o pulmão, confiantes, a oração que os consagram:

“Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador,
que a ti me confiou, a Piedade Divina,
Sempre me rege ,me guarde,
me governe e me ilumine.
“AMÉM”


Crato (Ce), 13 de maio de 2008.
Dr. João marni de Figueiredo

quinta-feira, 10 de julho de 2008

MEU PAI ERA ASSIM...

Um sonhador, já vitorioso. Um simpaticíssimo rapaz que ao descer do trem vindo de Quixadá, no pós guerra, firmou seus pés neste chão um de cada vez, mas imagino-o moleque, com os dois pés e um coração!
Elevou então seus olhos azuis e ficou fascinado pelo Cristo Rei!
Um abençoado, conduzindo sempre seu enorme sorriso de pura irreverência. Caridoso, manso, de língua contida quando o assunto era o outro. Homem de bom gosto em tudo. A começar por minha mãe! Um fazedor de amizades. Por último, gravou na retina de cada um que o conheceu, a imagem do humilde, do louco pela vida, do apressado.
O homem só alcança seus objetivos se sonhar e trabalhar. O trabalho pode dignificá-lo e até revelar quem ele é. Coisas de passar os outros para trás não se perpetuam, pois resultam em frutos da esperteza, que podem até durar,
mas são meros acúmulos. Sem história.
Meu pai foi bom. Meu pai foi e é unanimidade. Onde chego. Aonde vou.
Parece até que não existimos, os filhos. Afinal somos sempre a referência dele: os filhos de Cândido!
Chego a imaginar também que ele teria conseguido erguer a lendária EXCALIBUR! Pelo menos lá em casa sim, foi sempre o nosso herói...
Voou tão alto o meu pai, tomou tamanho impulso por suas atitudes, que despertou mais ainda a atenção do Criador!
Ao contrário de Ícaro, em suas asas nossos corações!

Crato (Ce), Abril de 2007
Dr. João Marni de Figueiredo

A DONA DA LUZ

Sou médico há vinte e seis anos, e por trabalhar na urgência pediátrica, às vezes deparo-me com a morte.
É sempre uma experiência traumática e, derrotado, presenciar a dor da família, sobretudo a dor da mãe, é algo que não consigo aceitar como pequeno, comum, inexorável.
A mãe é um ser especial, dotado de um coração diferente, maior, mais forte, porém mais raso.
Uma vez grávida, passa por transformações físicas e psicológicas incríveis, tudo pelo concepto.
Mais do que uma simples obediência biológica em passar seus genes adiante, o vínculo criado é tão poderoso que os casos contrários são considerados aberrações.
Parido em dor, o bebê causa lágrimas de pura alegria e orgulho em sua exausta mãe!
Amamentá-lo, compreender o significado de cada um de seus sinais, de gemidos a sorrisos, só cabe a ela, em todas as fases do desenvolvimento dele.
Ante os perigos e as doenças, questiona a Deus, por quê não com ela? E por ocasião da perda, grita tão alto, como que tentando acordá-lo, chora tanto, declara seu amor tão sincera e piedosamente, que sensibiliza a todos em volta, numa onda de puro afeto, fidelidade e desolação!... O epitáfio da mãe de Santa Teresinha deveria representar as demais mães: “Para meus filhos, deixo o meu coração: pertenço ao céu”.
Pesaroso, livrando-me das luvas, vislumbro a Imaculada.
Apesar de tudo, desse caldo de sofrimento, o médico levanta-se e segue, esperançoso que momentos assim tornem-se cada vez mais raros, quando, por fim, o homem, o gestor, terá compreendido o clamor de seu povo, melhorando os indicadores de saúde!

Crato (Ce), 18 de abril de 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo