Sou médico há vinte e seis anos, e por trabalhar na urgência pediátrica, às vezes deparo-me com a morte.
É sempre uma experiência traumática e, derrotado, presenciar a dor da família, sobretudo a dor da mãe, é algo que não consigo aceitar como pequeno, comum, inexorável.
A mãe é um ser especial, dotado de um coração diferente, maior, mais forte, porém mais raso.
Uma vez grávida, passa por transformações físicas e psicológicas incríveis, tudo pelo concepto.
Mais do que uma simples obediência biológica em passar seus genes adiante, o vínculo criado é tão poderoso que os casos contrários são considerados aberrações.
Parido em dor, o bebê causa lágrimas de pura alegria e orgulho em sua exausta mãe!
Amamentá-lo, compreender o significado de cada um de seus sinais, de gemidos a sorrisos, só cabe a ela, em todas as fases do desenvolvimento dele.
Ante os perigos e as doenças, questiona a Deus, por quê não com ela? E por ocasião da perda, grita tão alto, como que tentando acordá-lo, chora tanto, declara seu amor tão sincera e piedosamente, que sensibiliza a todos em volta, numa onda de puro afeto, fidelidade e desolação!... O epitáfio da mãe de Santa Teresinha deveria representar as demais mães: “Para meus filhos, deixo o meu coração: pertenço ao céu”.
Pesaroso, livrando-me das luvas, vislumbro a Imaculada.
Apesar de tudo, desse caldo de sofrimento, o médico levanta-se e segue, esperançoso que momentos assim tornem-se cada vez mais raros, quando, por fim, o homem, o gestor, terá compreendido o clamor de seu povo, melhorando os indicadores de saúde!
Crato (Ce), 18 de abril de 2007.
Dr. João Marni de Figueiredo
quinta-feira, 10 de julho de 2008
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