quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

MOTOR TURBO 6.0, FUMAÇANDO

Lembro-me dos meus aniversários em que havia no bolo menos de uma dúzia de velas e dos gritos agudos em torno da mesa, repleta de irmãos e amigos, do sopro forte apagando-as de uma vez, com o parabéns.
fato meteórico: hoje seriam necessárias sessenta velas ocupando o cume do bolo, uma verdadeira favela de tantos dezembros... Por praticidade, porém, apenas duas - o seis e o zero - e não precisa entrar em apnéia de tanto soprar!

Aparentemente o tempo arrasta-se, mas é de


É chegada o momento em que o homem muda de fila e vê os umbrais da última fase da vida a convidá -lo para reflexões tantas, inclusive a coniência de que o vento deste sopro sobre as velas acaba de apagar sua juventude, num adeus ao pensamento da imortalidade e da inimputabilidade tão peculiar desse estágio. O que este cabelos
brancos me avisam e me pedem é que eu fique mais atento ás necessidades das
pessoas e que definitivamente eu quebre o espelho de Narciso. Magicamente, cruzando a lâmina dágua da cascata da vida, vislumbro agora a todos que não ajudei e que de alguama forma não soube compreender.
Peço-lhes perdão.





Propensa como é a mente humana a familiarizar-se com facilidade a qualquer mudança, desde que seja para melhor, sinto-me hoje muito à vontade e confiante para o que se convencionou chamar de terceira idade, pois afinal posso voltar a engatinhar, fazer caretas e mil piruetas sem que ninguém ache que enlouqueci, porque estarei a brincar com os netos... Quando lembro que sarampo, diarréia, remela, unha quebrada e cabeça raspada eram minha mazelas... Comparadas à minha saudade de papai e mamãe hoje, percebo que realmente a infância é a aurora da vida, com o barulho de asas em vôo ascendente num céu azul.





Dos sessenta anos de agora, quarenta têm sido com Fátima, desde fevereiro de 1969, com todos os humores da vida. Sinto-me responsável por cada cabelo branco dela porque contribuí para tingi-los assim. Ou de fato só o tempo é que nos desbota a todos numa nova aquarela? Nesta moldura vê-se cristalinamente que vossos olhares estavam convictos que seríamos mesmo um do outros: ''... esse seu olhar, quando encontra o meu... doce é sonhar e pensar que você gosta de mim e eu de você...''

O outono da vida é a idade em que deixamos de ser jovem. Já não tenho que agradar a todos, só àqueles que realmente me importam: a família e amigos de verdade, catados e cativados ao longo dos anos. Entro agora na ''prorrogação'' da vida, torcendo que o ''gol de ouro " demore a sair! Amanhã, posso até ficar cego, mas já tenho a minha paisagem na memória: vocês, o céu, morros e matas da cidade do Crato. Ao fundo, o arco-íris da minha remota infância.





Abrindo esta nova cortina, sinto que terei que ser bom, melhor e deliciosamente melhor, para que minha família e as pessoas em geral gostem de mim e que Deus venha a me querer. No meu julgamento, que meu coração não pese tanto e que o pai também tenha lapsos de memória!... Se perguntado pudesse eu viver minha vida novamente, diria que a viveria como vivi, podando alguns excessos, mas não todos os meus erros, afinal foram também eles que me compuseram e me trouxeram até aqui.




Concluo afirmando que hoje, nova etapa, sou um homem feliz e sex... sexagenário!

Crato, 21.12.2009

João Marni de Figueiredo

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

MAIS UM FILHO QUE SE CASA.



David e Tassiana, vocês vêm tecendo juntos a memória dos dois ao longo desses anos, num tecido de linho branco, munidos de paixão, amor e amizade. Esperamos que a ponta do fio continue a escrever essa história bonita até que todos os nus vistam-se com dignidade.
Perguntamos a Deus por que tamanha pressa em casar depois de doze anos de namoro?Precisam avaliar melhor os riscos de desentendimentos, a começar se não chegar em casa o homem à hora costumeira, ainda mais sem o pão, ou pela comidinha queimada que a mulher esqueceu no fogão após horas à frente do espelho! Que movimentem-se não de uma incerteza para outra, mas com a convicção de que existe um traçado superior para nossas vidas, e que determina nossos passos. No final, ficará apenas o trajeto das nossas almas em prol das pessoas e a saudade da juventude. O amor de vocês não está estreando, não é como a primeira página em branco de um livro, pois tem já várias gerações, e Deus apela àqueles que amam, que façam ninho e procriem.
Sentencia que nunca mais pensem separadamente e que seus filhos condicionarão suas vidas, sendo isto tão verdadeiro quanto as estações do tempo. Hoje consagram a união em público porque em particular já o fizeram perante Ele desde aquele dia, David, em que Tatá sorriu para você pela primeira vez, revelando covinhas em suas bochechas adolescentes.
David, de olhos cândidos, de azul celeste, e Tassiana com os seus, esses olhinhos de jaboticaba: negros e doces. Que casal lindo, de sorrisos francos, largos e acolhedores, vocês que são incapazes de fazer mal a alguém ou a qualquer ser vivo não humano, não tenham medo mas saibam que a dor virá de algum modo, como um desafio, para que só os bravos e os sofridos possam abrir o Grande Portão como quem chega em casa!
Na cerimônia das alianças, lembrem-se que o compromisso primeiro é com o próprio Deus, pois vocês são meros figurantes da festa. Festejem e festejem muito, pois Ele estará muito mais exultante e feliz do que todos nós e, enquanto jogam arroz os convidados, do ALTO cairão bênçãos e mais bênçãos.
Tassiana, você é uma filha que não tivemos e que por isso mesmo não nos deu trabalho; não a vimos correndo pelos nossos corredores, mas a queremos como tal e qual. Pedimos-lhes que fiquem atentos para que não criem filhos arrogantes ou filhas submissas, mas que tenham a disciplina necessária da paciência e do amor de vocês, com a graça e o perdão perenes de Jesus, pois certamente assim não recorrerão eles à felicidade volátil e vã das drogas.
Cici e Beta, obrigado por essas crianças lindas e boas em nossas vidas: Tassiana, Tales e Tiago. Saibam que Deus retribuirá a todos nós com netos barulhentos!
David, Tassiana é sua companheira sonhada e encontrada. Cuida bem dela. Com nosso mais longo abraço, abençoamos-lhes!

Seus Pais e irmãos.

João Marni de Figueiredo
15/08/2009

quinta-feira, 30 de julho de 2009

CRÔNICA DE OLIVAL HONOR - PAPO ENTRE DOIS AMIGOS

Quase todos os cronistas da Rádio Educadora têm curso superior. Quando se encontram para bate-papo, têm por diretriz um pensamento clássico de Berthold Brecth, meio pernóstico ou gabola, mas a rigor verdadeiro, que define as pessoas em três categorias, quando conversando: as inteligentes, que falam de idéias; as pessoas comuns, que falam de coisas; e as pessoas medíocres, que falam de pessoas. As medíocres por falta de assunto, comentam a vida alheia, mentem, caluniam, detratam, - são as conhecidas e famosas faladeiras ou fuxiqueiras, categorias na qual o Ceará é campeão brasileiro e tem o Crato como vencedor “hors-concours” de todos os certames estaduais.
Pois foi em um desses bate-papos que pedi ao meu grande amigo, Dr. João Marni de Figueiredo, conhecido pediatra de nossa cidade, o qual é também formado em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco, que me dissesse de onde vem a paixão,- por que as pessoas se apaixonam, algumas por um ideal, outras por objetos, tantas outras por animais e outras ainda, misteriosa e irracionalmente, por outras pessoas. Ele não respondeu imediatamente, mas entregou-me sua resposta seriamente escrita e de forma tão elegante e rica, que resolvi publicá-la hoje, enriquecendo esta crônica com seus conceitos.
Define assim o Dr. João Marni a origem da paixão:
“ A paixão vem de regiões escondidas da nossa alma, dos mares bravios de lá, surge de forma súbita arrebatadora feito uma doença incontrolável: sem limites, sem regras, sem remédio. É capaz de invadir, prender e matar, como um tirano. Para em seguida desatar os nós dos laços, saindo em busca de outros chamados, de onde rouba o sono e a fome. O amor...ah! , o amor é brando, paciente, contemplativo e capaz de sofrer em silêncio, querer bem sem ser correspondido; é fiel, gosta de prender-se a um aconchego, a um cafuné. Tem juízo e vem do coração do Mar da Tranqüilidade. A paixão aproxima, é chama ardente, é verão. O amor une, gruda, é fogo brando em permanente primavera.
A paixão é o hoje, é terra de ninguém, “non sense”. Alimenta-se de cartas românticas.O amor é o hoje e o amanhã e alimenta-se da verdade.
A paixão prende e procria, o amor liberta e perpetua.
Mas acredite: - quem criou um, criou o outro”!

29.07.2009

GRATIDÃO



Lembrança maior, água fria não gelada que me acordou esperto e sereno no dia seguinte que já se anunciava, a batalha do meu jovem e querido Dr. Cícero e do corpo de enfermagem do Hospital São Francisco, da Companhia de Bombeiros, todos anjos vivos do Crato. Vi, guardando distancia e respeito por eles, os esforços de cada um na luta contra Tânatus a devolver ao copo cansado, o espírito solto e feliz da minha mãe Maria Olga. Ao final, como sofrem todos os médicos e paramédicos convocados por Deus, deixaram, com seus suores e minhas lágrimas em especial, marcas no vestidinho simples dela, borrando-o e ao meu coração.
Muito obrigado a todos e que Deus os abençoe.

Ambulatório do H.S.F
João Marni de Figueiredo



Quando eu perceber que o fim se avizinha (futuro, primo do presente), recolher-me-ei ao leito, exigirei silêncio, lençóis brancos e cheirosos, uma janela pela qual deverão vagar meus olhos e por onde revelarei o que fiz de bom e de ruim. Não escreverei mais nada, acharei até os meus melhores amigos uns chatos, serei tolerante apenas com os meus netos, pois estes não irão interromper minha conversa com Deus.

João Marni de Figueiredo.

LEONARDO

Meu caçula, meu último, meu menorzinho, que saudade de você... Como gostaria que Deus me fizesse sofrer mais, desde que menos a você. Todos os dias, ao amanhecer, quando ponho os pés no chão, lembro logo de você: onde está, se dormiu, se está feliz... O vento sopra forte demais à minha volta, arrancando, tirando de mim os meus portos. Mas preciso seguir em frente agarrando-me às lembranças, aos bons momentos, nos primeiros aniversários. Fico lá, no seu berço, no seu cantinho, todas as vezes em que este futuro, que é rápido, me incomoda no presente, que é mais rápido e agora. É isso. É triste e necessário. É a vida, é a roda, o moinho, a mesmíssima estrada. Léo, não esqueço do seu sorriso, do seu cheiro. Obrigado. Não demore. E parabéns, meu doutor.

Painho – 03/2009.

Minha Fátima.



Que bonito amor, que em meio a tantas nuvens, me oferece um “céu de brigadeiro”!
Que bonito amor dá-me maior amor do que posso merecer e pelo qual padecerei
sem conseguir pagar...
Que bonito amor, abrangente como deve ser o amor, tecendo correntes com as mãos e com o coração, cruzando pontes entre parentes e amigos outros, agradando a todos gratuita e desinteressadamente.
Que bonito amor é o seu, meu amor, só comparando ao de mãe!
Eu te amo, minha eterna namorada, mãe de três privilegiados, avó sabe Deus de quantos adiante, amiga e solidária de incontáveis pessoas anônimas!
Deus a abençoe!

João Marni de Figueiredo.

VELHICE



Pouco importa venha-me a velhice.
Que é a velhice?
Meus ombros suportam o mundo.
Quem é Atlas?
O mundo não precisa mais que a mão de uma criança.
Não adianta morrer. A vida é uma ordem.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
O presente é tão grande,
Não nos afastemos muito,
Vamos de mãos dadas...

(Adaptado das poesias “Os ombros suportam o mundo” e “Mãos dadas”, de Carlos Drumond de Andrade).

MEDITAÇÕES

Vida – Sobreviver e reproduzir é condição darwiniana. Perpetuar é divino!

Relatividade – Partiste. Na volta, porém, ninguém aqui de ti!

Roendo as unhas – Criou o que não deveria ter criado; como perfeito é, não pode arrepender-SE!

Infinitude - Os sonhos da infância.
A força e a coragem da juventude!...
Traição e humilhação...
Injustiça e condenação.
A dor, a extremada dor.
O calor, a sede.
O medo.
O perdão.
A entrega
Jesus.

Finitude – O impacto e a dor, os círculos e a certeza!
Assim é o nascer.
Assim é o morrer.
Como uma pedra atirada num lago!


Fênix – O pai que volta;
o choro da mãe;
a culpa e o perdão;
o desespero e a esperança;
a noite e o dia;
o sorriso da criança;
fim da agonia!

Obediência - Observando hoje os pássaros ao final da tarde, à hora do recolhimento, percebi como são obedientes à natureza. Sinto-me irresponsavelmente fora dela.



Amor de esposa – Fátima, meu amor, perguntei a Jesus Cristo sobre o sofrimento dele, sobre as cinco chagas, como as suportou; com o rosto sereno e a mão valorizando o indicador, respondeu: “Para que você não seja a sexta... ou sábado...” Te amo!


Inspiração (coisas do coração) – Sei que não há nada mais arredio, ciumento, desalmado, vaidoso, belo e verdadeiro do que o coração meu. Quando fala sozinho, é tão bonito que nem sei... É capaz de alçar vôos longínquos e depois voltar; de falar sobre o céu e o inferno. Mas se alguém o perturbar além de mim, foge em silêncio. Como hoje.


Paixão – Tive sorte de tê-la conhecido no começo de minha vida. Tenho a certeza de recomeçar com ela hoje e sempre, se preciso for.


Minha Maria Alice – Nem nasceu ainda e já és uma pequena rainha. Sabemos, majestade, com todo o respeito, de tuas pernas longas e de tua beleza, antes mesmo de vires ao nosso mundo e que serão teus, só teus nossos ansiosos corações.


Promessa – Derramarei meus motivos em lagrimas. Na verdade, venhas como vieres, Deus é “louco” por ti, também. Rogo a Ele, Nosso Senhor, que venha a escutar teu primeiro choro. Prometo-te que nos outros que certamente virão em tua vida, não serei culpado por nenhum deles, mas que chorarei contigo por todos eles. Um beijo e um abraço do teu avô.

segunda-feira, 16 de março de 2009

MULHER, MAMÃE...



DE QUE SERVEM OS MÚSCULOS DO HERÓI,
SE A CORAGEM EMANA DA HEROÍNA?
HÁ, NO INDICATIVO DE DEUS, MULHER,
ORDEM PARA QUE SUPORTES A DOR
E QUE FAÇAS, DO SACRIFÍCIO E DO AMOR,
BROTAREM AS MAIS LINDAS E MELHORES JURAS.
COMO RECONHECIMENTO,
ENCHEU A TI DE BELEZA, DE LEITE, DE CORAGEM
E DE UM AMOR TÃO PROFUNDO
PARA QUE O RASO HOMEM
JAMAIS PUDESSE ENTENDER
A TUA REAL DIMENSÃO.
MAMÃE, IMAGINO AS TUAS NOITES DENSAS,
MUITO DENSAS, QUANDO SIMPLESMENTE
TE OFERECIAS A JESUS POR NÓS, TEU FILHOS.
ESTE PROFUNDO SENTIMENTO INTERIOR,
NA ÂNSIA POR ELE,
CERTAMENTE ALIVIOU A TODOS NÓS.
TU ÉS O FIEL DEPOSITÁRIO DE DEUS.
A TI, O MEU RESPEITO E, COM O TEU PERDÃO,
PELO MEU DESRESPEITO O CASTIGO
POR TANTAS VEZES NÃO TER OBEDECIDO A TI...
PARADOXALMENTE, É HORA DE COMEMORARMOS.
AFINAL, AO LONGO DE TUA VIDA, MÃE,
NEM SEMPRE PREVALECERAM AS LÁGRIMAS.
COM O NOSSO ABRAÇO, EM CORRENTE,
NÓS QUE, A EXEMPLO DE TODOS OS FILHOS
E QUE DAMOS TRABALHO AOS PAIS,
PERCEBEMOS AGORA QUANTO DEUS TE AMA,
POIS, GUARDADAS AS RESPEITOSAS PROPORÇÕES,
SOFRESTE MUITO MENOS QUE NOSSA SENHORA,
POR NÃO TERES SEPULTADO A NENHUM DE NÓS,
OS TEUS OITO ANÕES.
TEU CORAÇÃO CONTINUARÁ

A PULSAR NOS NOSSOS, NOS TEMPOS DO HOJE E

DO AMANHÃ.


TE AMAMOS.


08.03.2009
João Marni e Irmãos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

SOBRE A SÍNDROME DO NINHO VAZIO


Outro dia presenciei o momento de desespero de um sábia, quando pousou e não encontrou mais os filhotes. Com o bico cheio, tal mãe com os peitos repletos, voou para lá e para cá, como quem perde o juízo. Assim, esquecidas de si, ficam todas as mães quando desaparecem os filhos nessa vida louca!...
Perda implica em ausência, sumiço do bem querer, mesmo que não seja para sempre, mas que nos faz solitários.
Quando iniciamos uma família, o primogênito ganha o título nobre de príncipe ou princesa, não é uma questão de classe social: todos nós assim nos comportamos. Com o tempo, logo vêm os irmãos, filhos de iguais títulos. E não importa quantos deles tenhamos. Num certo dia, num desses dias que chegam para os pais que amam – pois para os que não amam jamais chegam – a casa amanhece num silêncio perturbador, sem seus gritos ou o som de suas quedas e o de objetos que eles mudam de lugar e de forma! Então passamos a ouvir o barulho de fantasmas no piso que estala, na janela que não foi devidamente fechada, do vento no telhado, da conversa do vizinho e, se temos um cachorro, do uivo lamuriento dele. Assim sentimos quando saem os filhos, um a um, para estudar longe e, quando adultos, dividem entre as famílias constituídas, o Natal e o Ano Novo. É justo, justíssimo! Mas somos chorões demais e nunca nos preparamos. Compreendemos. Mas sofremos. Fazer o quê, se somos sabiás com os bicos cheios? Então é chorar mesmo, voar, derramar nossas lágrimas em dois pequenos cálices, tentar ignorar a saudade, brindar à alegria deles, (pois é nossa), e, num gole só, no xis dos nossos antebraços, agradecermos a Deus por ainda os termos.
A propósito, você está cada vez mais linda, Fátima. Os fogos e o estouro de champanhe que ouvimos agora ao longe, são para nós dois também! Feliz Ano novo! Feliz Ano Novo para todos!


31.12.2008
João Marni de Figueiredo

DO PECADOR PARA O SANTO




Como é complexa, diversificada e única, a imprevisível personalidade do gênero humano! Na busca da felicidade no horizonte perdido de cada um, há os que se socorrem do próprio isolamento a meditar; há aqueles que pensam consegui-la apenas se fizer fortuna; os altruístas e empáticos parecem tê-la; os caridosos e humildes como São Francisco, tudo indica possuí-la; os que se dedicam ao conhecimento (seja da matéria ou da alma), asseguram que é possível obtê-la. Há quem a veja numa rosa, num dia chuvoso no Nordeste do Brasil, num dia de sol na sombria Londres, na reconciliação do amor ou ao final de mais uma guerra. Mas os dias do hoje escondem este sentimento de tal modo que o sonho de ser feliz, direito de todos, torna-se cada vez mais utópico, razão pela qual se explique em parte o uso indiscriminado de drogas, inclusive, de forma alarmante, entre os muito jovens. Observamos corriqueiramente garotos e garotas de pouca idade para qualquer coisa que não seja dar recado ou brincar de boneca, em festinhas de “som de bate estaca”, desacompanhados de um anjo adulto da família, a tomar porres de variações do álcool, com conseqüências imprevisíveis.
Temos um neto de quase 14 anos, “BBB” (Breno, Bom e Bonito) e o monitoramos de perto sempre que podemos. Nossas conversas são francas e abertas, para que esse monitoramento não exija nossa presença física ostensivamente, na tentativa de contribuir na organização de um superego razoável e sensato, que nos liberte de tanta preocupação.
Orientá-lo para que não ceda à força do grupo de sua idade em assuntos “perigosos” é uma tarefa do dia a dia, já que eles, nessa fase, imitam instintivamente e querem emoções novas que os levem logo à vida adulta, lugar em que julgam coexistirem irmanadas, liberdade e felicidade. Sobre a ilusão de encontrar alegria e auto-confiaça com ajuda de bebida alcoólica ou de outras drogas ditas mais conflitantes, disse-lhe que é a saída dos fúteis e pouco inteligentes, e que cada indivíduo reage diferentemente a elas, pois todos nós carregamos na mente os animais com os quais nos identificamos:
- Alguns liberam pássaros (ficam cantantes, sinfônicos, até);
- Outros deixam sair cães tipo poodles ou labradores (só diversão)
- Há os que soltam lagartixas e lagartos (palavras vãs, palavrões);
- Há aqueles que se livram de macacos (e haja palhaçada) ou de porcos (quando então perdem o estilo);
- Infelizmente existem os que também nos brindam com cascavéis e pittbuls (e aí é pura dinamite: quando não matam, machucam demais);
Mas se você liberasse apenas pombas brancas, daquelas da Paz de Jesus após tomar vinho com seus amigos apóstolos, então prometo acompanhá-lo em suas “bicadas”! O ideal é não iniciar, pois todos esses bichos podem pertencer a um só indivíduo, que os vai soltando um a um em dias incertos, seguindo ou não a ordem que citei.
Procure, meu neto, a felicidade no coração de quem de fato queira o seu bem.
Com certeza ela lá se encontra se você acreditar. Afinal, nenhum de nós que amamos a você, deseja-lhe a outra face dessa utopia.


Um beijo do seu Vozinho.
Feliz Ano Novo!

31.12.2008
Dr. João Marni de Figueiredo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

AMOR VIRTUAL


De tanto ouvir sobre tragédias nos noticiários, fruto de encontros ora do acaso, ora de forma premeditada, envolvendo pessoas inocentes e bandidos, refleti que isso sempre ocorreu, sabe-se lá desde quando; hoje certamente em maior escala e riscos.

A tecnologia vem contribuindo, seja pelo telefone celular ou pelo computador, para esses contatos entre pessoas, muitas vezes envolvendo crianças, e também casais virtuais, sem que os personagens troquem olhares ou sintam o perfume do outro, - dirá o ferormônio, deixando de lado a visão de um certo jeito de andar... Ai veio-me a lembrança de tempos não tão distantes, da prática interiorana na busca pela cara-metade reservada nos altares de Deus, dos sonhos de cada um. Os encontros aconteciam também em qualquer lugar mas, muito freqüentemente, nas praças. A Siqueira campos, aos domingos à noite, era o grande palco onde as garotas passeavam num rito austero e delicado, nunca sozinhas, mas em pequenos grupos, de braços, limpas e cheirosas, em seus vestidos bonitos e pouco insinuantes, repetidos com choro e não menos espetaculares. Desfilavam contornando a praça para uma platéia de marmanjos que ficava à margem, aparentemente alheias a eles em seus segredos. Vez ou outra os olhares se cruzavam furtivamente, deixando alguma dúvida que só seria revelada no giro seguinte.

Confirmado pelo olho no olho, o coração dispara e as pernas – pelo menos as minhas, fraquejavam diante da próxima etapa do passeio, quando lá vem a todo-poderosa, e o homem deixa de ser menino, dirigindo-se à pretendida sem medo de uma “rabissaca”, ou de um “corte”, roubando-a de seu grupo e convidando-a a sentar-se em um dos bancos, no centro daquele carrossel de ilusões, de encanto, de paixões e de decepções... Ainda ouço os risos e os incentivos dos amigos que continuavam a tentar a sorte...
Dali, relações afetuosas se formavam e vingavam, como foram as do meu pai e da minha mãe, e de muitos outros que, como eu, são românticos e nostálgicos e só acreditamos, a exemplo de São Tomé, após termos visto,tocando e cheirado! Talvez a única vantagem de agora é que os pais não precisam mais entrar em casa na ponta dos pés a fim de surpreenderem o namoro dos filhos ou dos netos, pois através da telinha do computador não se escutam as juras de amor, mas apenas o barulho discreto do teclado tocado por mãos que não afagam, transmitindo mensagens ditas por bocas mudas que não beijam, olhos que não vêem e corações que apenas batem mas provavelmente não sentem. Seus aposentos trancados têm um cheiro azedo de suor, chulé e mofo, por proibirem o sol de lá entrar e iluminar-lhes as mentes modernas. À noite, semanalmente, sedentos iguais NOSFERATUS, encontram-se em baladas, num ritual de ficar por alguns instantes, revezando-se num pescoço marmóreo e exaurido, e retornam sem paixão, sem afeto e sem norte.
Tantas modas voltam, mas, infelizmente, tenho a impressão que as praças não têm mais pistas apropriadas para o flerte (expressão caduca e estranha), mas para corridas ou caminhadas cronometradas , silenciosas, individualizadas, daqueles que visam melhorar a condição física pelo culto ao corpo, a despeito de haver ali alguém solitário que ainda hoje arrisca um olhar a partir do circulo externo... Ou será que a vida é que está sempre indo e nós é que, de fato, ficamos?
Crato, CE, 10/12/08.
Dr. João Marni de Figueiredo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A PRIMEIRA PEDRA

... E Narciso quebrou o espelho d água jogando, no fundo lamacento do lago, não apenas sua imagem, mas o respeito na vida a que teriam direito seus familiares, agora reféns da platéia circense de todo globo. Com seu gesto impensado, condenou a todos direta ou indiretamente envolvidos, a procurar em vão uma sombra onde ficar, em meio a um deserto de solidariedade e de compaixão. Não há onde se esconder e não há também água que alivie sua sede e sofrimento, apenas pedras arremessadas e fel na ponta da lança...

Começam a lamber as próprias feridas até os inocentes, por gerações seguidas, com o estigma daquilo que deveria ter ficado entre quatro paredes. Essas pessoas, em busca de ajuda e sem ter a quem recorrer, até parecem repetir incessantemente os versos da poetisa goiana Cora Coralina: “Bati na porta de um coração. /Bati, Bati. Nada escutei. / Casa vazia. Porta fechada, foi o que encontrei.”

É, parece que os amigos andam muito ocupados, fecharam suas vitrinas em que se minguaram o pão e o ungüento. A repercussão tem o tamanho do poder de quem erra e não do ato em si, pois duvidamos se seria grande, caso os envolvidos tivessem sido Chico Bento, Severina e Raimunda. Personagens existem entre nós desde escândalos cometidos em nome da fé, a políticos que se elegem e se reelegem com a pouca memória popular, impedindo terem uma vida melhor e mais justa, crianças e idosos.

É evidente que os protagonistas das cenas que ganharam o mundo saindo daqui, ruborizariam até Federico Fellini, (“La Dolce Vita” – 1960) e Gerard Damiano (“Deep Throat” – 1972), cineastas da sexualidade e do comportamento não convencionais.

Mas há inocentes nas famílias que precisam dormir em paz. Que não façamos mais barulho. Só para encerrar o que já é tão desgastante, fiquemos com as palavras de Steve Jobs, fundador da poderosa empresa APPLE, por ocasião de uma formatura da qual foi patrono: “O tempo de vocês está marcado; não o desperdicem vivendo a vida alheia”!

Pois bem, é provável que o céu já esteja modernizado, e os julgamentos ocorram agora “ON LINE!”!

Crato, CE, 04/02/09.
Dr. João Marni de Figueiredo
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