sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Enfim, juntos.

Samara e Érico:
"O amor é paciente, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acabará".
(Cor. 13,4-8)

Meus queridos, estas são umas das importantes palavras de Deus para casais. São tantas...
Em tudo Deus os favorece. Jamais esqueçam-se do primeiro encontro com os primeiros olhares e que a palavra que os iniciaram e que os consagram no sacramento matrimonial, hoje, é o SIM! Usem-na fartamente no cotidiano de vocês. Ajustem seus corações numa cadência sincrônica, harmônica, para que um perceba o sobresalto do outro e só bata feliz quando feliz fizer o outro. O amor exige a confiança de um JOSÉ e a fidelidade de uma MARIA! Portanto, digam reciprocamente: dou-me a você... Sejam, pois, âncora e amigos entre si, condição para que vejam, juntos, o balançar teatral das folhas, todas as vezes que o vento se fizer manso em suas vidas.
Procurem não conjugar o verbo magoar (embora seja uma possibilidade incomum), mas em acontecendo, tenham, na disposição para o perdão, a mesma descontração e alegria com que o bom Deus o concede. Agradeçam-Lhe por tê-los unidos e orem pelos corações destroçados por uniões que não têem aliança com Ele.

Um grande abraço dos amigos João Marni e Fátima.


Crato, 13 de Setembro de 2008.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

DESMAME



Quem ama deveria se dispor a orientar e a incentivar o aleitamento materno, fosse profissional da saúde ou não, numa grande corrente a favor do ato mais bonito entre os seres vivos.
A mãe que amamenta tem olhos plenilúnios, a boca mais sorridente e o coração mais feliz dentre todos. Aquele momento é mágico, encontro de olhares que se completam, berço e palco de relações humanas quase angelicais, prenúncio e anúncio de uma amizade única, fundamentada na alegria, segurança e desprendimento.
Um momento tão bom que faz o neném balançar as pernas, como se a vida já estivesse resolvida...
Um momento de zelo tão singular que exige até trégua, como podemos observar em animais de espécies diferentes amamentando filhotes não seus, como bem retratado na mitologia greco-romana, em que os gêmeos Rômulo e Remo esbaldam-se nas tetas de uma loba.
É senso comum que o aleitamento materno deva ser exclusivo até pelo menos o sexto mês de vida do bebê, por vantagens mil. Depois desse período, deverá a mãe preparar o desmame, o que não significa deixar de dar de mamar, mas introduzir novos alimentos: frutas, sopas, papas, etc. Algumas mães passam a negar o peito após o sexto mês, pois julgam haver cumprido com o dever. Ledo engano, pois não há prazo para isso. Por que não estender mais esses momentos? Lembrar que adiante, todas as refeições ocorrerão em pratos, xícaras, pires, copos, com talheres, palitos e com as mãos.
A criança, logo logo, procurará andar e sairá pelo resto da vida batalhando pelo alimento que antes brotava como por encanto..
Decreta-se que assim tem que ser a vida da gente, freqüentando mesas não raro barulhentas, pouco acolhedoras.
Se o ato de amamentar voltasse a ser tão natural quanto já o foi nos primórdios da humanidade, certamente não teríamos hoje o culto aos peitos, incentivado pelos colunistas e paraíso da indústria da moda e dos cirurgiões plásticos. Se sabemos que muitos homens valorizam mesmo a outras tetas, ilusórias, aquelas das quais não jorram leite, mas dinheiro fácil e abundante, para que esse exagero?
Que as mães não se apressem, não estipulem prazo para o desmame definitivo, pois este é um entendimento entre dois seres que se amam e se conhecem profundamente. Portanto, minha filha Monalissa, não participarei deste processo, mesmo que já tenha onze meses. Sendo avô, não posso perder o brilho dos olhinhos da minha neta Maria Alice quando está a mamar. Como pediatra, não lembro o nome do remédio que faz o leite secar!
Adiante, no fim de ti, mãe, meu coração ainda infante te envolverá e serei capaz de po-la em meu colo, pender tua face em meu peito e fingir jorrar em ti a vida, no leite que tanto mo deste!

João Marni de Figueirêdo
02 de setembro de 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA N. 27 DO ICC - INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI

Ilustríssimo senhor presidente e demais componentes da mesa diretora.

Meus amigos, boa noite!

Agradeço-lhes de coração por suas presenças nesta cerimônia. Sinto a alegria e a felicidade de meu pai junto a nós neste momento e quero parabenizá-lo pelo dia de hoje, em que faria 81 anos.
Lembro-me, ainda adolescente, do dia em que mamãe contou para mim, que uma cigana havia dito na minha infância que eu seria um grande homem. Papai, sempre irreverente, concordou que ela acertara, haja vista o meu tamanho!
Pelo sim, pelo não, adivinhações à parte, aquela cigana devia ser legítima, pois hoje, agora, de fato sinto-me um grande homem!
Seqüenciar o Dr. Elysio Gomes de Figueiredo na cadeira da qual é patrono, no Instituto Cultural do Cariri, não passa de mera coincidência, seja por ter sido médico, biotipicamente longilíneo ou ter Figueiredo no sobrenome.
É indiscutível e indescritível sua grande inteligência, tanto literária quanto médica. Numa comparação simples, seria como o vôo do beija-flor e o do bruguelo de pombo...
O nosso ilustre senhor nasceu no Crato, no dia 02 de fev. de 1892, filho do Dr. Gustavo Horácio de Figueiredo (Juiz de Direito) e de Dona Maria Gomes de Matos Figueiredo. Formou-se em medicina na Bahia, em 1916, tendo sido o orador de sua turma.
De volta, exerceu também as funções de professor de física e química no Ginásio do Crato, além de ter sido ali Inspetor Federal de Ensino por trinta e cinco anos.
De quebra, falava cinco idiomas além do português: inglês, francês, italiano, espanhol e grego. Orador criativo, inflamado, de estilo verbal e dialética irretorquíveis.
Faleceu em Crato, em 17.10.1975, ano em que, por coincidência também, ingressei na faculdade de medicina. Seria como numa corrida em que se passa o bastão. Hoje tornamo-nos confrades, pelo que sempre o incluirei em minhas preces junto a Deus.
Vocês não fazem idéia de quão feliz encontra-se este garoto!
Quando recebi a indagação em forma de convite, para ocupar a cadeira pertencente ao eminente Dr. Elysio Gomes de Figueiredo, o primeiro sentimento foi de incredulidade, mas veio-me a certeza, visto que os seus constituintes são pessoas de bem, vibrantes, talentosas e sérias, pois imortais são.
Assim, refeito do susto, num passe de mágica, regredi à infância, como faz todo homem quando lhe convém.
Lá, vi-me preocupando a meus pais, por achar prazerosa a bola e não o livro. Sortudo, por eles haverem sido atentos e visionários, fui persuadido a estudar em Barbalha, no magnífico Colégio Santo Antônio, - hoje a faculdade de medicina – com dois campos de futebol.
Só não me revelaram sobre a disciplina e que o salvo-conduto para as folgas dos fins de semana concedidas quinzenalmente, seria o boletim de rendimento escolar e a vistoria na caderneta do sensor ( individuo terceirizado pelo colégio, com bagagem cultural e moral para anotar delitos...) Meu Deus!
O ano era 1962. Com a ajuda de anjos em forma de professores, fui aos poucos despertando interesse pelos estudos. Quem não se enquadrasse provaria dos nós dos cordões da Ordem Salvatoriana!
Após três anos retornei para o Colégio Diocesano, em Crato, e o hábito de estudar permaneceu. Mais uma vez despedi-me da família em 1969, quando o Recife tornou-se o novo desafio.
Após doze anos, agradecido a Deus, ao meu pai Cândido Figueiredo, à minha mãe Maria Olga, ao Ceará e Pernambuco aqui chegamos, minha esposa Maria de Fátima, eu e nossos três filhos dourados feitos troféus: Monalissa, David e Leonardo. Na bagagem, três títulos Universitários: Fátima com Enfermagem (Universidade Federal de Pernambuco) e eu com Psicologia (Univ. Federal de Pernambuco- 1976) e Medicina (Univ. de Pernambuco – FESP – 1980), além de livros, panelas e muita esperança! Não compreendo como pode alguém não acreditar em Deus!
É provável que ingresse no Instituto Cultural do Cariri não pelos títulos universitários ou como cronista esporádico, mas pelas inúmeras cartas endereçadas à minha Fátima, entre os anos de 1969 e 1973, época do namoro, as quais convenceram a uma linda mulher, unir-se a este cabra feio!
Ano passado, em abril, por ocasião de uma perda para Tânatus, de uma criança grave, num plantão noturno, chamou-me a atenção a declaração de amor contida, verdadeira, da mãe pelo filho inerte. Não houve escândalo ou blasfêmia. Aquelas doces palavras de despedida e entrega convidaram-me ao recolhimento, em lágrimas. Foi quando então, na madrugada, escrevi minha primeira crônica, “A Dona da Luz”.
Por bênção, nosso querido amigo Olival Honor a leu e, generoso que é, achou que eu deveria continuar a escrever, trazendo-me hoje até aqui, onde sinto a simpatia e o acolhimento de todos vocês com as boas vindas, excelentes anfitriões que são.
Prometo-lhes honrar o Instituto Cultural do Cariri, em nome do Dr. Elysio Gomes de Figueiredo, dos meus pais, da minha família como um todo, dos amigos e dos agora colegas que compõem esta casa.
Prometo-lhes também não permitir que a vaidade ocupe o meu coração, entendendo que esse chamamento veste a toga do compromisso com a educação, enxergando em cada criança dessas nossas terras um membro futuro deste time.
Sonho que o sucessor deste que assume agora, seja também um chorão! Concluo dizendo-me possuído pelos melhores sentimentos.

Obrigado,
João Marni de Figueirêdo.