quarta-feira, 23 de abril de 2014

Querida Fátima


Sabemos ser impossível conhecermos ou controlarmos precisamente as circunstâncias de nossas vidas, devido à intromissão do acaso. Não temos como evitar certas forças inesperadas e imprevisíveis, responsáveis pelo trajeto de cada um de nós neste mundo. Mas somos convidados a crer que ainda assim, até mesmo esse movimento desmastreado prossegue em alguma direção.
Lembra-se? Foi num período de carnaval. Você tinha 15 anos e eu 19. Estudantes. Uma receita que tinha tudo para estragar o bolo, mas que surpreendentemente deu certo. Levamos a vida ou a vida tem nos levado. Aqui estamos nós com 40 anos de união e uma família que nos enche de orgulho. Você-rio imenso- veio vindo e levou minhas águas turvas e poucas e, desde então, temos percorrido o acidentado leito do nosso destino ora mansamente, ora aos borbotões, buscando o futuro na entrega e na transformação das nossas águas ,quando do acolhimento de Deus, nosso Grande Oceano!
Até lá, é bom demais dizer que te amo e que o seu amor faz-me muito bem. Sei que também contribuí e ainda contribuo no descolorir dos seus cabelos, mas sei que posso contar sempre com a sua indulgência. Sou um homem de sorte, pois não é comum uma mulher impedir que as dificuldades, incluindo as advindas da pobreza, se imiscuam na vida do casal. Adoro sardinhas ainda hoje!
Querida, agradeçamos a Deus por tudo, e seja bem-vinda à idade tão sonhada por todos, principalmente pelos que não conseguiram alcançá-la por algum infortúnio. Somos parte agora de uma minoria escolhida, talvez para que nos tornemos melhores, para o bem de todos. Uma última chance divina, acho. Hoje somos mais reflexivos e contemplativos: Brigamos só pelo edredom!
Mais adiante, melhor eu primeiro: se fico, como alguém já disse, terei perdido a escora da minha vida...
Parabéns, te amo. E vida longa!
(“God save my queen”!)  Crato, 29-11-2013
João  Marni




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