terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ATÉ DEUS CHOROU



Basta a visão de uma cachoeira ou da terra a partir do espaço, para imaginarmos um criador para tanta beleza. Aquele único olho azul no pano de fundo preto do firmamento, nos arrebata, nos encanta. O palco dos seres vivos, lugar privilegiado, talvez único em todo o universo. Não aconselho- nem  compactuo,- a quem quer que seja, atribuir a Deus as desgraças emanadas do próprio homem que, a exemplo de todos os viventes, encontra-se em evolução e, portanto, sujeito a imperfeições. Somos ainda capazes de realizarmos gestos e atitudes bipolares: ora extraordinariamente belos e agremiantes, solidários, ora brutais e desagregantes. Na nossa caminhada rumo à leitura do plano divino, acertamos e também erramos.
Recentemente, minha alma tumultuada passou por mais duas experiências marcantes: a primeira diz respeito ao resgate do garoto Kiki Joachin do terremoto do Haiti. Saiu dos escombros após dias soterrado, com um semblante de pura vitória da vida sobre a morte. Não havia medo em seus olhos, apenas alegria, euforia, apesar dos sinais da sede e da fome em seu corpinho frágil. Os gritos e as lágrimas dos bombeiros traduziram e transcreveram a correta interpretação dessa leitura do que Deus espera de todos nós. Foi tudo o que uma criança representou para humanidade, naquele momento: a solidariedade que deveria nos acordar todos os dias, sem que tivéssemos que passar por algum tipo de sofrimento ou provocação, pesadelo do nosso dia a dia.
O segundo episódio revela o quanto estamos longe na nossa busca. Alcides, jovem negro e filho de uma catadora de lixo no Recife, (ela teria outra condição se tivéssemos vergonha na cara e não elegêssemos quem não presta para nos governar), tirou o 1º. lugar na faculdade de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco, sem nunca haver visto um computador em sua escola pública. Amado por todos do campus da universidade, por ser símbolo de inclusão social e por seu largo sorriso e insuperável determinação. Era um resiliente. Mas foi abatido por assassinos, em sua casa pobre, comovendo todo o Brasil em pranto. Era ainda uma crisálida, deixando a humanidade órfã e envergonhada, sem saber das cores de suas asas em vôo por sobre os jardins da vida.
Quem sabe, um dia escreveremos que estas foram lembranças de um tempo pretérito, que já vai longe, e que a vida seja de fato tão bela como um sim, em meio a tantos nãos... Que não se configure só como um jogo de encontros aleatórios e improváveis, onde um fica com o maior pedaço, em detrimento do outro: como na fúrcula das aves (o osso da sorte), quando o disputamos. Que os vãos disfarces do homem, que tanto nos punge o coração, só ocorram em bailes de carnaval!
O homem é o único animal que chora. Talvez seja uma esperança. As minhas não costumo enxugar; deixo-as desabarem sobre o peito e depois que ganhem o chão. A vida nos foi dada para que a tornemos sempre mais bela e feliz para todos, pelo que precisamos urgentemente ser artífices e artistas deste projeto divino.

Crato, 11/02/2010
João Marni de Figueiredo(do ICC)

2 comentários:

Francila Alencar disse...

Muito rico e interessante teu bloog.
Gostaria de segui-lo! Também tenho um, bem acanhado. Não tenho tido tempo de postar, embora esteja com muitos artigos. Sou Psicaalista e A. Social. Voltei ao Crato há poucos anos e já estou pensando em sair de novo.Rssrs! Acho que vc. e Fátima conhecem meus pais : Zezé e lúcia Bezerra. Fui casada com Rogério primo de Antônio ( de Ida ).
Bom Parabéns e até breve!

Francila Alencar disse...

http://francilalencar.blogspot.com