quinta-feira, 30 de julho de 2009

CRÔNICA DE OLIVAL HONOR - PAPO ENTRE DOIS AMIGOS

Quase todos os cronistas da Rádio Educadora têm curso superior. Quando se encontram para bate-papo, têm por diretriz um pensamento clássico de Berthold Brecth, meio pernóstico ou gabola, mas a rigor verdadeiro, que define as pessoas em três categorias, quando conversando: as inteligentes, que falam de idéias; as pessoas comuns, que falam de coisas; e as pessoas medíocres, que falam de pessoas. As medíocres por falta de assunto, comentam a vida alheia, mentem, caluniam, detratam, - são as conhecidas e famosas faladeiras ou fuxiqueiras, categorias na qual o Ceará é campeão brasileiro e tem o Crato como vencedor “hors-concours” de todos os certames estaduais.
Pois foi em um desses bate-papos que pedi ao meu grande amigo, Dr. João Marni de Figueiredo, conhecido pediatra de nossa cidade, o qual é também formado em Psicologia pela Universidade Federal de Pernambuco, que me dissesse de onde vem a paixão,- por que as pessoas se apaixonam, algumas por um ideal, outras por objetos, tantas outras por animais e outras ainda, misteriosa e irracionalmente, por outras pessoas. Ele não respondeu imediatamente, mas entregou-me sua resposta seriamente escrita e de forma tão elegante e rica, que resolvi publicá-la hoje, enriquecendo esta crônica com seus conceitos.
Define assim o Dr. João Marni a origem da paixão:
“ A paixão vem de regiões escondidas da nossa alma, dos mares bravios de lá, surge de forma súbita arrebatadora feito uma doença incontrolável: sem limites, sem regras, sem remédio. É capaz de invadir, prender e matar, como um tirano. Para em seguida desatar os nós dos laços, saindo em busca de outros chamados, de onde rouba o sono e a fome. O amor...ah! , o amor é brando, paciente, contemplativo e capaz de sofrer em silêncio, querer bem sem ser correspondido; é fiel, gosta de prender-se a um aconchego, a um cafuné. Tem juízo e vem do coração do Mar da Tranqüilidade. A paixão aproxima, é chama ardente, é verão. O amor une, gruda, é fogo brando em permanente primavera.
A paixão é o hoje, é terra de ninguém, “non sense”. Alimenta-se de cartas românticas.O amor é o hoje e o amanhã e alimenta-se da verdade.
A paixão prende e procria, o amor liberta e perpetua.
Mas acredite: - quem criou um, criou o outro”!

29.07.2009

GRATIDÃO



Lembrança maior, água fria não gelada que me acordou esperto e sereno no dia seguinte que já se anunciava, a batalha do meu jovem e querido Dr. Cícero e do corpo de enfermagem do Hospital São Francisco, da Companhia de Bombeiros, todos anjos vivos do Crato. Vi, guardando distancia e respeito por eles, os esforços de cada um na luta contra Tânatus a devolver ao copo cansado, o espírito solto e feliz da minha mãe Maria Olga. Ao final, como sofrem todos os médicos e paramédicos convocados por Deus, deixaram, com seus suores e minhas lágrimas em especial, marcas no vestidinho simples dela, borrando-o e ao meu coração.
Muito obrigado a todos e que Deus os abençoe.

Ambulatório do H.S.F
João Marni de Figueiredo



Quando eu perceber que o fim se avizinha (futuro, primo do presente), recolher-me-ei ao leito, exigirei silêncio, lençóis brancos e cheirosos, uma janela pela qual deverão vagar meus olhos e por onde revelarei o que fiz de bom e de ruim. Não escreverei mais nada, acharei até os meus melhores amigos uns chatos, serei tolerante apenas com os meus netos, pois estes não irão interromper minha conversa com Deus.

João Marni de Figueiredo.

LEONARDO

Meu caçula, meu último, meu menorzinho, que saudade de você... Como gostaria que Deus me fizesse sofrer mais, desde que menos a você. Todos os dias, ao amanhecer, quando ponho os pés no chão, lembro logo de você: onde está, se dormiu, se está feliz... O vento sopra forte demais à minha volta, arrancando, tirando de mim os meus portos. Mas preciso seguir em frente agarrando-me às lembranças, aos bons momentos, nos primeiros aniversários. Fico lá, no seu berço, no seu cantinho, todas as vezes em que este futuro, que é rápido, me incomoda no presente, que é mais rápido e agora. É isso. É triste e necessário. É a vida, é a roda, o moinho, a mesmíssima estrada. Léo, não esqueço do seu sorriso, do seu cheiro. Obrigado. Não demore. E parabéns, meu doutor.

Painho – 03/2009.

Minha Fátima.



Que bonito amor, que em meio a tantas nuvens, me oferece um “céu de brigadeiro”!
Que bonito amor dá-me maior amor do que posso merecer e pelo qual padecerei
sem conseguir pagar...
Que bonito amor, abrangente como deve ser o amor, tecendo correntes com as mãos e com o coração, cruzando pontes entre parentes e amigos outros, agradando a todos gratuita e desinteressadamente.
Que bonito amor é o seu, meu amor, só comparando ao de mãe!
Eu te amo, minha eterna namorada, mãe de três privilegiados, avó sabe Deus de quantos adiante, amiga e solidária de incontáveis pessoas anônimas!
Deus a abençoe!

João Marni de Figueiredo.

VELHICE



Pouco importa venha-me a velhice.
Que é a velhice?
Meus ombros suportam o mundo.
Quem é Atlas?
O mundo não precisa mais que a mão de uma criança.
Não adianta morrer. A vida é uma ordem.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
O presente é tão grande,
Não nos afastemos muito,
Vamos de mãos dadas...

(Adaptado das poesias “Os ombros suportam o mundo” e “Mãos dadas”, de Carlos Drumond de Andrade).

MEDITAÇÕES

Vida – Sobreviver e reproduzir é condição darwiniana. Perpetuar é divino!

Relatividade – Partiste. Na volta, porém, ninguém aqui de ti!

Roendo as unhas – Criou o que não deveria ter criado; como perfeito é, não pode arrepender-SE!

Infinitude - Os sonhos da infância.
A força e a coragem da juventude!...
Traição e humilhação...
Injustiça e condenação.
A dor, a extremada dor.
O calor, a sede.
O medo.
O perdão.
A entrega
Jesus.

Finitude – O impacto e a dor, os círculos e a certeza!
Assim é o nascer.
Assim é o morrer.
Como uma pedra atirada num lago!


Fênix – O pai que volta;
o choro da mãe;
a culpa e o perdão;
o desespero e a esperança;
a noite e o dia;
o sorriso da criança;
fim da agonia!

Obediência - Observando hoje os pássaros ao final da tarde, à hora do recolhimento, percebi como são obedientes à natureza. Sinto-me irresponsavelmente fora dela.



Amor de esposa – Fátima, meu amor, perguntei a Jesus Cristo sobre o sofrimento dele, sobre as cinco chagas, como as suportou; com o rosto sereno e a mão valorizando o indicador, respondeu: “Para que você não seja a sexta... ou sábado...” Te amo!


Inspiração (coisas do coração) – Sei que não há nada mais arredio, ciumento, desalmado, vaidoso, belo e verdadeiro do que o coração meu. Quando fala sozinho, é tão bonito que nem sei... É capaz de alçar vôos longínquos e depois voltar; de falar sobre o céu e o inferno. Mas se alguém o perturbar além de mim, foge em silêncio. Como hoje.


Paixão – Tive sorte de tê-la conhecido no começo de minha vida. Tenho a certeza de recomeçar com ela hoje e sempre, se preciso for.


Minha Maria Alice – Nem nasceu ainda e já és uma pequena rainha. Sabemos, majestade, com todo o respeito, de tuas pernas longas e de tua beleza, antes mesmo de vires ao nosso mundo e que serão teus, só teus nossos ansiosos corações.


Promessa – Derramarei meus motivos em lagrimas. Na verdade, venhas como vieres, Deus é “louco” por ti, também. Rogo a Ele, Nosso Senhor, que venha a escutar teu primeiro choro. Prometo-te que nos outros que certamente virão em tua vida, não serei culpado por nenhum deles, mas que chorarei contigo por todos eles. Um beijo e um abraço do teu avô.